terça-feira, outubro 23, 2007

Dois em um

Depois de mais de 100 postagens neste "O Tempo Passa" e 250 na "Salada Mista", chegou a hora de unir os dois.
Assim, a partir de hoje, com apenas um clique em "Rubens Pires Osorio" você terá acesso tanto às minhas memórias e "causos", quanto às minhas reflexões, reclamações, e reações cotidianas.
Os posts antigos continuarão disponíveis nos dois blogs.
Convido-os a continuarem me visitando, comentando e prestigiando este humilde blogueiro que vos escreve. Até !!!

91- CHUVA EM VERSAILLES


Paris é uma festa, diz o ditado. Realmente a cidade tem atrações maravilhosas – o Louvre, a torre Eiffel, o rio Sena – é tudo muuuito lindo!

Elaine e eu tentávamos a impossível tarefa de ver tudo em quatro dias. Saímos cedo do hotel e pegamos o trem em direção ao famoso Palácio de Versailles, que fica fora dos limites da cidade. O céu azul e o brilho do sol prometiam um dia agradável para um passeio ao ar livre.


Lá, dirigimo-nos ao imenso jardim, uma verdadeira obra de arte em forma de folha e flor. Paramos junto a uma simpática fonte para o lanche do meio-dia. Retomamos o passeio. Foi quando percebemos que nuvens negras se aproximavam. Procuramos onde nos abrigar e percebemos que o melhor seria voltar para o palácio. Mas... não deu. Antes de chegarmos a uma área coberta, os céus desabaram sobre nossas cabeças, como diria Asterix, o gaulês.

Foi um sufoco, tentando proteger a máquina fotográfica com meu agasalho de nylon, acabei deixando todo o resto à mercê dos grossos pingos de água que desciam. Junto com a chuva, um vento forte que nos molhava de cima a baixo e de baixo pra cima. Pra piorar, na corrida para achar um abrigo, o vento arrancou-me o chapéu. Tive que correr atrás dele.

Finalmente, ensopados, chegamos a um bom abrigo. Lá tentamos nos secar um pouco e esperar a chuva passar, para poder voltar a Paris.

Que passeio !!!

quinta-feira, outubro 11, 2007

90- PHEBO

Meu avô usava o sabonete Phebo. Ele morreu com mais de 90 anos, quando eu estava com vinte e poucos. Uma lembrança forte e aromática que tenho dele é do perfume de sabonete Phebo que ele usava. Não era um sabonete popular. Era caro, tinha uma cor escura, esquisita. Pouca gente usava. Meu avô gostava. E eu, gosto porque me remete a ele. Não era um homem muito aberto, extrovertido, pelo contrário. Era severo. Os filhos pediam "a bênção", beijando-lhe a mão. Ele usava chapéu de lã e paletó escuro. E tinha alguns costumes interessantes. Comia goiaba picada num prato fundo com leite. Bebia um copo de vinho tinto a cada refeição. Como ele morava em Santos, sua casa significava, pra mim, férias na praia. Eu adorava.
Vô Marcílio era médico. E farmacêutico. E dos bons nas duas coisas. Nunca ficou rico. Tinha certa dificuldade com dinheiro e exercia a medicina para ajudar as pessoas, não para enriquecer. Seu pacientes o admiravam. Ganhava sempre muitos presentes: caixas de uva, garrafões de vinho, doces e compotas, lenços e meias.
Mas o que eu mais lembro é do cheiro de sabonete Phebo que ele exalava depois do banho. Huummm...

terça-feira, outubro 09, 2007

89- SIGLAS AOS MONTES

Brasileiro tem mania de sigla. Até pra nome inventam sigla, por exemplo, FHC – nome de presidente da república! E no estado do Rio Grande do Norte, o clássico do futebol é entre duas siglas, times conhecidos pela sigla e não pelo nome.
Eu tive algumas siglas importantes na vida – instituições que me ajudaram muito em fases distintas e que pude, suponho, ajudar também.
A primeira, UEB, é a União dos Escoteiros do Brasil. Dos dez aos 16 anos, participei ativamente, primeiro como “lobinho” e depois “escoteiro” do Grupo Escoteiro Umuarama, em S. Paulo. Foi um período excepcional, cheio de aventuras, aprendizado e companheirismo. Tanto as reuniões regulares aos sábados à tarde, quanto os ansiosamente aguardados acampamentos foram fundamentais para minha formação moral e social. Anos depois, em Sorocaba, pude oferecer a mesma oportunidade a meninos e meninas do grupo escoteiro que ajudei a fundar e dirigir, o G. E. “Tropeiros de Sorocaba”.
O intercâmbio que fiz pela AFS – American Field Service - foi um marco na minha vida, um ano fundamental. Minha primeira viagem internacional, primeiro ano longe de casa – e dos pais -, primeiro choque transcultural. Considero-me parte, até hoje, da família Frank e cidadão do estado da Carolina do Norte, EUA. Lá empenhei-me em organizar, na minha escola, o AFS Club, que existe ainda.
ABU significa Aliança Bíblica Universitária, e foi ela que, além de me oferecer um apoio fundamental num momento crítico como universitário, deu-me a preciosa oportunidade de conhecer a Elaine. Minha vida universitária foi rica em descobertas e coisas boas, muito por obra e graça da ABU. Dois anos depois de formado, tornei-me membro de seu staff para me envolver com um projeto muito lindo chamado Diaconia. Em resumo, a equipe deste projeto dava apoio e orientação aos universitários que se envolviam em ações de desenvolvimento comunitário em várias regiões do país.
Depois vem a ACM, nem de perto nada semelhante ao famigerado coronel da política baiana, é, de fato, a sigla da Associação Cristã de Moços, também conhecida como YMCA. Com mais de 150 anos e presente em todo mundo, ela é responsável por um bocado de coisa boa que aconteceu neste mundo – desde a invenção do basquete, do volei, do futsal até um de seus fundadores (Henry Dunant) ser o primeiro ganhador do Prêmio Nobel da Paz por ter instituído a Cruz Vermelha. Foi na ACM em S. Paulo que eu aprendi a nadar, e foi para ela, em Sorocaba, que eu trabalhei por cinco anos na formação técnica dos futuros executivos da organização, provenientes de vários países: Portugal, Angola, Peru, Chile, Bolívia, Colômbia, Panamá, Paraguai e de vários estados brasileiros.
Não tenho tido contato com estas instituições. Sei que elas continuam atuantes e fortes. Tenho a esperança de ter retribuído de alguma forma um pouco do muito que recebi na infância e adolescência.
UEB, AFS, ACM e ABU. Quatro siglas num mundo recheado delas. Para mim, entretanto, são especiais...

terça-feira, outubro 02, 2007

88- FRASES...

Eliseu foi meu melhor amigo. Além dele, tinha meus primos,mas estes eram "família", não contam. Então era o Eliseu.

Apesar de gostarmos de brincar juntos e inventar mil coisas diferentes para fazer, ele e eu não tínhamos muita coisa em comum, não. Eu mal tocava o “bife” e ele era exímio pianista. Eu gostava de futebol, ele preferia o basquete. Eu lia sem parar, ele ouvia música e pouco lia. Ele era de família abastada, eu, filho de pastor protestante – naqueles tempos, sinônimo de vida difícil – não tinha nem um décimo dos brinquedos que ele tinha. Por essa razão, os encontros eram sempre na casa dele. E nos dávamos muito bem, a ponto de não me lembrar de ter brigado sério com ele jamais.

Mas não me esqueço das muitas horas, alegres, divertidas, nas quais aprontamos juntos tantas brincadeiras.

Uma das coisas que inventamos foram frases de efeito. Uma delas era: “mas porém todavia contudo entretanto...” que iniciava uma sentença de oposição.

Outra, mais elaborada, unia gírias daquele tempo e mais antigas. Quando queríamos manifestar entusiasmo por alguma coisa, dizíamos: “legal pra caramba à bessa às pencas pra xuxu às baldas”. E ríamos de nossas próprias bobagens.

Começamos a nos distanciar quando a adolescência chegou e as meninas começaram a ocupar nosso tempo. Depois, a vida universitária levou cada um para um canto. Não sei mais dele... mas sei que aqueles tempos foram “legais pra caramba à bessa às pencas pra xuxu às baldas”!!! A ele devo muito da felicidade que curti na infância e adolescência.

Eliseu, à você, meu irmão!!!

terça-feira, setembro 25, 2007

87- MEIA DÚZIA DE DOIS OU TRES...

Aos doze, treze, quatorze anos de idade, é muito difícil levar a vida a sério. Levar os estudos a sério então, impossível. Mas eu era bom aluno, sempre entre os “five top” da minha classe, no Ginásio Mackenzie, de aproximadamente 40 alunos, todos do sexo masculino.

Depois do segundo ano juntos, os colegas tornam-se amigos e mais – cúmplices. Era complicado para os professores nos controlarem.

Havia um, professor de português, que dava aulas há muito tempo. Para nós, era um velho. Provavelmente não. Devia ter uns quinze a vinte anos de carreira e estar ne meia idade. Mas era meio ranzinza, isto ele era. Dava broncas, mandava alunos para a sala do diretor, era severo nas notas. Gostava de mandar quem fazia gracinhas para o “quadro negro” e então fazia perguntas difíceis só para desmoralizar o coitado. Freqüentemente, o aluno tentava, inutilmente, pensar numa resposta e rapidamente o professor ralhava: “Vamos, lerdão!”. E dava um sorrisinho de quem havia, também, dito uma “gracinha

Quando passávamos dos limites, ou aprontávamos alguma, ele nos punha de castigo, dando-nos um longo discurso de repreensão. Ao perceber que tinha exagerado nas críticas à classe, ele tentava consertar dizendo: “A turma não é ruim, não. É só uma meia dúzia de dois ou tres que estragam...” Frase que nunca me esqueci.

terça-feira, setembro 18, 2007

86- "PHD" !!!

No final do século XX, o secretário de saúde de minha cidade convidou-me para dar uma palestra para seu “staff”. Dias depois, ele me convidou para fazer parte de sua equipe de assessores! Senti-me lisonjeado pelo convite, e aceitei. Embarquei de cabeça nos assuntos de saúde, e por dois anos e meio dediquei-me a ajudar o desenvolvimento do sistema de saúde pública da minha cidade. Foi bom, muito bom, mas... sempre tem um “mas”, não é?

Paulatinamente fui-me distanciando do secretário, enxergando, com outros membros do “staff”, um caminho para a saúde pública que o secretário não via, ou não queria ver. Aliada a um centralismo gerencial, a falta de delegação, certa superficialidade no trato de assuntos importantes, e dificuldade em trabalhar em equipe, essa distância tornou difícil o trabalho. Mas eu era teimoso, não queria desistir e o secretário parecia disposto a me manter.

Ao final do primeiro mandato, não me envolvi ativamente na campanha eleitoral; o prefeito foi reeleito e vislumbrou-se uma chance de se livrarem de mim: a mudança da equipe do prefeito em função da nova distribuição política do poder municipal. Em vez de me chamar e pedir minha demissão, tal como tinha feito quando me contratou, foi um auxiliar do prefeito que me convocou ao gabinete e me demitiu, no meio do dia, sem me dar prazo para entregar o cargo, organizar os documentos, deixar tudo preparado para quem fosse me substituir. Deu a impressão que eu era um elemento perigoso, que poderia causar prejuízo se ficasse ali um dia a mais.

Ao despontar do novo século, tornei-me um “phd”: por hora desempregado!!!

terça-feira, setembro 11, 2007

85- ENFRENTANDO A JUSTIÇA

Foram anos felizes aqueles passados na Rua Canindé, no charmoso e tranquilo bairro do Jardim Paulistano, em Sorocaba. As crianças iam à escola ali perto e brincavam com os vizinhos, uma turminha formidável de excelentes meninos e meninas.
Um dia resolveram jogar volei, ali mesmo na rua, e fizeram a rede com uma cordinha esticada de um lado ao outro da rua. Quando algum carro se aproximava, o jogo parava e erguiam com uma vara o cordão para o carro passar.
Um garoto da vizinhança, que não fazia parte da “turma” aproximou-se de bicicleta. A pequena inclinação da rua permitia que alcançasse uma razoável velocidade. Em vão as crianças tentaram avisá-lo do perigo. Ele não viu a cordinha e chocou-se contra ela no pescoço, levando um tombo e ferindo-se sem gravidade. As crianças, assustadas, acorreram acudir o garoto, que ficou bravo e foi pra casa chorando.
Meses depois, recebi em casa uma intimação da justiça para que meu filho, de apenas 10 anos, comparecesse à promotoria. Fomos, Elaine e eu, junto com o garoto, recebidos por uma jovem promotora, que, muito séria, disse que estava investigando uma acusação ferimentos provocados a uma menino e que meu filho estava envolvido no caso e deveria prestar depoimento. Dissemos que ele prestaria qualquer informação que pudesse. Foi quando a promotora sugeriu que iria interrogá-lo a sós. Afirmei que o menino estava sob responsabilidade dos pais, por ser menor de idade, e os pais responderiam por ele. Portanto, qualquer interrogatório seria feito com nossa presença. Ela insistiu, quis dar a entender que quem decidia era ela, não eu; que eu me recolhesse à minha insignificância de pai de infrator.
Fiquei uma fera – quem já me viu furioso sabe o que isto significa – quase pulei no pescoço da “autoridade”. Na época, trabalhava na Secretaria da Criança e do Adolescente e conhecia o Estatuto “decor e salteado”. Sabia que ela não podia agir assim, por isso, finquei o pé.
Para evitar um escândalo maior, a Elaine veio em seu socorro e sugeriu que ela entrasse com o filho na sala da promotora. Eu esperaria do lado de fora. Eu assenti e a promotora não teve jeito, senão aceitar também. Passaram-se meses e recebemos nova convocação. Ao chegarmos ao forum, outra promotora nos recebeu. Olhou para o Rica e perguntou a idade dele. Quando soube, murmurou “tá tudo errado”, olhou-nos com misto de pena e contrariedade e disse: “desculpe-me, ele não é adolescente, não deveria ter sido intimado dessa forma, a colega – promotora substituta – fez tudo errado. Vou anular o caso e pedir o arquivamento desse processo imediatamente. Está bem assim?”. Nós consentimos e votamos pra casa aliviados e felizes. Mas pensando: não fosse a incompetência da primeira promotora, não precisaríamos ter passado por nada disso!!!

terça-feira, setembro 04, 2007

84- MEUS QUINZE MINUTOS DE FAMA

Instado pelo post do Paulo Brabo em 20 de agosto de 2007, vou contar-lhes sobre os meus 15 minutos de fama. Eu já os tive. Duraram seis meses.
Foi assim. Um dia fiquei sabendo que o recém eleito prefeito de minha cidade havia convidado um amigo meu para que implantasse um departamento pioneiro no Brasil: a Secretaria da Criança e do Adolescente - SEMEAR.
Entusiasmado com a relevância do papel que meu amigo estava prestes a assumir, telefonei-lhe, parabenizando-o e aproveitei para, na brincadeira, pedir-lhe um emprego. Ele, sério, respondeu: “venha falar comigo”. Fui, e saí contratado para ser seu assessor!
O trabalho foi insano e gratificante. A recém criada secretaria tinha apenas 2% do orçamento municipal, mas começou projetos, programas e idéias ousadas, pioneiras e relevantes.
Depois de dois anos à frente da SEMEAR, o prefeito pediu que o secretário assumisse a Secretaria de Educação e Cultura, a maior da Prefeitura. Obviamente ele aceitou mais esse desafio, onde fez também um ótimo trabalho. A novidade foi ele ter me indicado para substituí-lo, e o incrível foi o prefeito concordar, em caráter transitório! Assim, no dia 01 de julho de 1995, tornei-me Secretário Municipal da Criança e do Adolescente de Sorocaba.
Fui importante por seis meses. Era entrevistado por jornais e rádios, cumprimentado na rua, tinha carro e motorista à disposição, mencionavam meu nome quando estava presente em qualquer solenidade, tinha assento à mesa das autoridades.
Depois, no início de 1996, questões políticas me levaram de volta à doce situação de plebeu. Mas valeu, e muito. Foi uma experiência rica e valiosa. Posso dizer, porém: ser “famoso” não tá com nada!!!

quarta-feira, agosto 29, 2007

83- O TEMPO NÃO PÁRA...

Será?
A primeira vez que visitei Paraty - RJ, ainda não existia a rodovia Rio-Santos (Br 101). Descemos a serra pela estrada construída por D. Pedro I para poder visitar uma amante... estradinha sinuosa, linda e perigosa, pavimentada com pedras.
Quando lá retornamos, havia se passado mais de 25 anos. Muita coisa mudou, é certo, mas foi emocionante andar pela área preservada da cidade, onde piso, muros, casas, igrejas, postes, tudo, mas tudo, tem os ares de século XIX, exatamente como na primeira vez que lá estive.
Não foi possível acampar, como na primeira vez, nas areias da principal praia da cidade. Ela agora é bastante movimentada, perdeu o ar de praia de pescadores que tinha, até com um pequeno estaleiro de reparos de barcos, e onde os pescadores chegavam com peixes e camarões fresquinhos até a porta da nossa barraca para oferecer. E preparávamos no fogo a lenha ali mesmo, na areia. À nossa volta, apenas sossego. Nada a temer, nada a interromper a calma do local, com o constante vai e vem das ondas compondo o fundo musical eterno.
Paraty foi uma das cidades que visitei com meus pais nas férias de verão na minha adolescência. Ficamos lá alguns dias, eu, minha irmã, meus pais e um primo, descobrindo o verdadeiro tesouro histórico e geográfico que é. Um dos lugares mais lindos que já vi, sem dúvida!
O tempo não pára, mas, em alguns lugares especiais, vale o esforço para preservar intacto, como se o tempo houvesse parado, aquilo que, caso se perca, será um prejuizo sem conta.

terça-feira, agosto 21, 2007

82- O SENHOR DOS ANÉIS

No final dos anos 70, fui apresentado à extraordinária literatura do não menos extraordinário C. S. Lewis. Li alguns de seu livros de não ficção, mas gostei mesmo dos de ficção: “Longe do planeta silencioso” e a coleção “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa” me encantaram. Através de Lewis fiquei sabendo de um outro autor ficcional inglês, Tolkien, que fazia enorme sucesso entre estudantes universitários na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Procurei por seus livros em português e finalmente achei, na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional da Av. Paulista, em S. Paulo. Uma série de seis livros, chamada “O senhor dos anéis”. Durante algum tempo namorei-os na livraria. Sempre que passava por ali, apanhava um volume e gastava alguns minutos lendo. Criei coragem e comprei toda a coleção e iniciei a aventura que é ler Tolkien.
No começo, a leitura não decolava: o texto - cheio de parágrafos descritivos, com referências poéticas e históricas de um mundo que eu não conhecia – era muito mal traduzido, usava um vocabulário confuso e, várias vezes, dava pra desanimar. Mas persisti na leitura, mais por teimosia do que por deleite até chegar num ponto, não sei qual, e nem quando, que percebi não poder mais parar de ler! Andava com o livro debaixo do braço pra qualquer lugar que fosse e abria-o nem que fosse para ler um minuto. Ansiava por qualquer oportunidade de ficar só e poder ler sossegado. Que maravilha! Como alguém podia ser tão espantosamente criativo, coerente, profundo e hábil para criar um mundo e uma história tão excitante, comovente e relevante para nossos dias?
Devorei rapidamente os seis volumes. Elaine, minha esposa, também se rendeu aos “hobbits” e logo meus livros foram parar nas mãos de amigos, curiosos para conhecer o tesouro que eu tinha achado. Eu também os reli e acrescentei “O hobbit” à coleção.
Soube, depois, do enorme alcance da sua obra, como Tolkien era importante na literatura inglesa e universal e como suas profundas convicções cristãs permeavam seus trabalhos.
Quando uma nova tradução, essa sim, excelente, foi lançada, reli com renovado prazer toda a obra e assisti mais de uma vez a trilogia espetacular lançada no cinema. Ainda hoje, ao me lembrar da aventura de Frodo pela Terra Média, espanta-me a grandiosidade da obra de Tolkien.

terça-feira, agosto 14, 2007

81- UM RABINO EXCELENTE

Minha mãe é bibliotecária. A bem da verdade, diga-se, excelente bibliotecária. Nesta época trabalhava para a editora Nobel, em São Paulo.
Um dia um dos proprietários da editora, um judeu dinâmico e culto, porém não religioso, procurou-a para pedir a indicação de alguém que pudesse ler um livro, escrito por um famoso rabino americano, Harold Kushner, para opinar sobre a conveniência de ser publicado. Como sempre gostei de ler, e naquele tempo lia muito sobre teologia, ela indicou-me e trouxe pra mim um exemplar de “Quando Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas”.
Nunca havia ouvido ou lido nada do ou sobre o autor. Confesso que não gostei do título. A priori, não há pessoas “boas”. Mas encarei a tarefa e li atentamente o livro. Acabada a leitura, fiz um relatório aconselhando a publicação do texto, o que realmente foi feito.
O rabino conquista o leitor por todos os lados – racional, teológica e emocionalmente – seu texto vai aos poucos minando as resistências, por sua sinceridade, argumentação clara e uma espiritualidade profunda, vivencial, além de íntimo conhecimento do texto sagrado judaico.
Ganhei, como “pagamento” pelo “serviço”, meia dezena de exemplares, que fui aos poucos dando de presente para amigos que passavam por situações de perda. Comprei outros e mais outros. Ainda não encontrei texto mais adequado para ajudar aqueles a quem só posso oferecer um abraço, um ombro amigo, a solidariedade.
O livro foi bem sucedido e, felizmente, um segundo texto, igualmente bom, foi lançado: “Quando tudo não é o bastante”.
Fico feliz e até orgulhoso por ter de alguma forma ajudado a tornar acessível ao brasileiro os textos desse excelente autor, Harold Kushner.

terça-feira, agosto 07, 2007

80- BATIZANDO SETE QUEDAS

Foi uma viagem muito legal. Nós três - eu e dois primos – numa aventura entre São Paulo e o Mato Grosso (do Sul), de carro. Estávamos em férias. Eu, a seis meses do casamento, queria uma última aventura antes de estabelecer família e virar “homem sério”. A chance era de ouro. Um parente – não muito próximo – ofereceu hospedagem em sua fazenda, próxima à fronteira com o Paraguai. Nós aceitamos.
A viagem foi tranqüila e empolgante. Chegamos a nos perder nas estradas empoeiradas do Paraná. Quase 50 km de desvio. Pegamos um chuvão que deixou a estrada - de terra vermelha, a famosa “terra roxa” do Paraná – um lamaçal perigoso. Vários veículos – até tratores - aguardavam no acostamento enquanto alguns corajosos tentavam subir uma ladeira cheia de barro. Meu primo acelerou forte o corcelzinho “véio de guerra” dele e subimos deslizando de um lado pro outro da estrada até o topo. Uau! Até os camioneiros olharam com espanto e admiração.
Na fazenda, além da deliciosa rotina – acordar cedo, café-da-manhã, passear pelo curral, vendo os peões mexerem com o gado, bate-papo inconseqüente na varanda, ao por-do-sol, e joguinho de buraco depois da janta – pudemos visitar uma das cachoeiras mais bonitas do mundo: As Cataratas de Sete Quedas. Pouco tempo depois elas seriam definitivamente afogadas por toneladas de água da barragem de Itaipu.
À beira de um dos canyions da cachoeira, observei as águas rolando bravias no fundo e me deu vontade de... Como não havia ninguém por perto, pus-me a aliviar a bexiga ali mesmo, fazendo um longo arco líqüido que caia até o rio, lá embaixo. Quando acabei, olhei pra trás e meu primo estava a poucos metros, com uma cara marota. Só descobri a razão quando voltamos pra São Paulo e ele apresentou seu show de slides de fotos da viagem. Num deles, lá estava eu, de costas, e um longo e brilhante jato líqüido caia em direção à cachoeira! Ele havia me fotografado em flagrante!!! Rimos muito e fui obrigado a concordar que a foto tinha ficado demais!
...
(PS- infelizmente por ser em "slide", não tenho como postar aqui. Sorry)

quarta-feira, agosto 01, 2007

79- APEGO À BRASILIDADE

Ao chegar nos EUA como estudante de intercâmbio, em 1970, tinha a companhia de 150 brasileiros. Fomos alojados no campus da Hofstra University, em N. York, com mais de 500 intercambistas de outros 30 países.
Depois de três dias de reuniões de orientação e muita confraternização, chegou a hora de cada um ir para uma cidade, uma família, pelos próximos doze meses. Percebemos, então, que aquele convívio com brasileiros - barulhento, alegre e bagunçado – acabara, e estávamos destinados à solidão da “american way o life” por um longo ano. Este fato mexeu com as emoções de todos nós.
Eu havia feito amizade com alguns brasileiros, mas nenhum deles iria ficar próximo da cidade onde eu iria morar, Salisbury, Carolina do Norte. Uma das meninas do grupo estava com mais medo do que eu, porque o inglês “era grego” pra ela e sentia-se entrando num mundo desconhecido e apavorante. Fiz-lhe companhia neste último dia, tomamos café-da-manhã juntos e levamos nossas malas para o ponto de saída, à espera do transporte que nos levaria aos nossos destinos. Ficamos no gramado próximo, conversando sobre “coisas do Brasil”, nossas famílias, amigos e tudo aquilo que nos era tão querido e que estava tão distante – no tempo e no espaço.
Ficamos assim, conversando, chorando, consolando e na hora de partir, não paramos de nos abraçar, beijar, desejar tudo de bom, prometer manter contato e nos reencontrarmos em um ano.
Finalmente nos largamos, e cada um foi para um lado. Nunca mais a vi...

terça-feira, julho 24, 2007

78- PIRÂMIDE COSMÉTICA E DIVERTIDA

Assim como muitos brasileiros, também entrei para uma “pirâmide”. Só que esta, diferente de outras famosas por aí, não era tão maliciosa e maléfica.
O negócio era o seguinte: a pessoa era convidada a participar da equipe de vendas de uma indústria de cosméticos. Para ganhar dinheiro, bastava participar dos treinamentos, comprar um kit básico dos produtos do catálogo, e sair vendendo. Caso quisesse ganhar mais, era necessário acrescentar pessoas, formando e treinando uma equipe, pois uma pequena parcela das vendas delas lhe seria creditada. Tornando-se um bom líder de equipe, os ganhos indiretos – das vendas dos membros da equipe – suplantariam os ganhos diretos, de vendas próprias. E se acontessesse dos membros da equipe formarem outras equipes, melhor ainda, pois parte do resultado dessas equipes iria para quem tivesse originado a pirâmide.
Durante o pouco tempo em que participei com a Elaine dessa pirâmide, divertimo-nos muito, conhecemos muitas pessoas, algumas fabulosas, gastamos pouco e ganhamos um pouco também, o suficiente para não sair no prejuizo. Além disso, os produtos eram de excelente qualidade e agradavam em cheio toda a clientela. As pessoas que fizeram parte de nossa equipe foram beneficiadas financeiramente, apesar de ninguém ter atingido altos ganhos – ninguém ficou rico.
Não sei o que houve com a empresa depois que saí. Desliguei-me porque o nível de compromisso que exigiam era maior do que estávamos dispostos e porque a empresa concentrou sua atenção nas grandes metrópoles, e nós morávamos na então pequena Sorocaba.
Ouço ainda hoje, depois de tantos anos, de pirâmides em funcionamento; algumas mais perniciosas do que outras, mas todas perigosas por envolverem a pessoa que participa a tal ponto que a torna quase “dependente do negócio”.
Fico feliz por ter participado, mas feliz também por ter saído...

Em Angra dos Reis, nos tempos de “Bio-cosmética”

segunda-feira, julho 23, 2007

Ainda o Mike...

Pra quem ficou curioso em conhecer o bichano, achei uma foto dele, quando adulto e bonitão. Não era uma graça?

terça-feira, julho 10, 2007

77- MIKE

Mike chegou em casa junto com o irmãozinho gêmeo – dois gatinhos de poucos dias de idade, largados em frente ao portão de casa. O irmãozinho não resistiu à primeira noite, mesmo tendo sido alimentado com conta gotas e protegido numa caixa de papelão com panos macios. Mike, resistiu, mas não parecia que duraria muito – magérrimo, com raros pelos no rabinho, mais parecia um filhote de rato, de tão feio – e tratamos dele só por desencargo de consciência. Miava sem parar, 24 horas/dia, a tal ponto que tivemos que prendê-lo no banheirinho da lavanderia, pois ninguém aguentava ouvir seus miados depois de alguns dias. Aguentou, sobreviveu, mas ficou pouco afônico, praticamente não miava. Feio demais, barrigudo, com rabo de rato, cabeção e perninhas finas, andava balançandinho atrás da gente quando saíamos no quintal. Recebeu o nome Mike, na realidade, abreviatura do nome completo: Mai-qui-coisa-feia
Cresceu e ficou um gatão bonito, forte, carinhoso e inteligente. Atendia meu assobio; gostava de caminhar ao lado da gente como cão adestrado; bebia água na torneira da pia do banheiro; e era amigo dos meus cães.
Uma manhã recebi a notícia que ele havia sido encontrado morto no gramado do vizinho. O jardineiro tratou de enterrá-lo e eu nem quis ver porque disseram que ele estava inchado como que envenenado. As pessoas sentiram sua morte. Era benquisto por todos.
Já tive muitos animais de estimação: cães, gatos, pintinhos, coelhos, ratinhos, hamsters, pássaros, peixes e tartarugas. O Mike era especial. Vai sempre ser lembrado com saudade...

terça-feira, julho 03, 2007

76- BLOG, BLOGAR, BLOGUEIRO

Estas são palavras novas e excitantes para mim. Fazem há tão pouco tempo parte do meu mundo e já fazem parte das minhas melhores lembranças...
Tudo começou quando meu velho pai viu-se obrigado a aposentar-se pra valer – visto que legalmente já estava há vários anos. Veio aquele sentimento de inutilidade, de incapacidade, de estar à espera da morte somente.
Eu sabia que meu pai precisava sentir-se útil, atuante. Sabia também que ele tinha centenas de estudos preparados para ensinar na igreja presbiteriana da qual foi pastor durante mais de cinco décadas. Alguns estudos eram atemporais enquanto outros eram bem pontuais. Mas, mesmo estes mereciam ser divulgados mais amplamente, porque poucas pessoas os conheciam. E poderia ser útil na vida de alguns.
Foi quando me veio a idéia de divulgar estes estudos pela Internet. Assim, pensava eu, ele poderia animar-se a organizar seus escritos – que estavam bem espalhados pela casa – e escrever mais.
Abri uma conta no Blogger e montei o “Reflexões do Pastor Rubens Osorio” – um blog para postar os estudos bíblicos de meu pai.
Divulguei-o entre os familiares e através do jornal da Igreja Presbiteriana do Brasil. E as reações apareceram: pessoas próximas e algumas distantes no tempo e no espaço manifestaram alegria pela existência do blog!
A reação positiva animou-me a pensar seriamente em publicar na web meus textos: pequenas histórias acontecidas comigo (como esta). Assim aconteceu este meu segundo blog, “O Tempo Passa...”
Daí o vírus já havia se instalado no meu sangue e logo eu estava com meu terceiro e mais freqüente o “Salada Mista”.
Tornei-me um blogueiro. Amador, simplório, mas feliz em poder divulgar para quem se interessar, meus pensamentos, lembranças e sentimentos.
Comecei querendo ajudar meu pai... e foi ele que me ajudou !!!

segunda-feira, julho 02, 2007

Ooops !

Alguns de voces podem ter estranhado o teor do post colocado na 5a feira, de número 53, assinado pelo meu pai.
O texto foi postado por engano aqui no "Tempo Passa...".  O certo é onde está agora, no blog de estudos bíblicos, reflexões eclesiásticas e sermões  "Reflexões do Pastor Rubens Osório", onde publico semanalmente escritos de meu pai.
Desculpem a nossa falha.

quarta-feira, junho 27, 2007

Laughing Blogger Award

Pois é, este blog não tema intenção de fazer rir. Mas lembranças são assim: às vezes até as trágicas ou tristes nos fazem rir.
Fico feliz em saber que alguém se diverte comigo. No caso, o Lou, que me concedeu esta honraria. Vindo dele, é mais significativa, pois ele é engraçado até em funeral...
Minha tarefa é indicar blogs engraçados. Aqui vai:

Conversas & Pensamentos - tem ótimas charges !!!
Querido leitor - a produtora do "Pânico" só poderia ser engraçada, mas é também inteligente!
All Quad - apesar de ser um blog sobre arte de animação, os trabalhos apresentados são sempre muito, muito bons, bem humorados, leves... artísticos!

Acessem o blog da Meire pra ver os outros agraciados

Por enquanto, esses três. Depois indico mais dois, ok?

terça-feira, junho 26, 2007

75- O PATRÃO

Depois de sair da faculdade, meu primeiro patrão foi o Sabará. Antes eu havia trabalhado, durante a faculdade, como professor de inglês.
Antes, ainda, trabalhara algumas horas por semana, lá na loja de móveis do meu “pai americano”, durante o intercâmbio. Mas foram experiências curtas e que não carregavam o peso de ser um emprego pra valer. Esse, não. Havia sido contratado como “geólogo” formado e tinha status e responsabilidades maiores.
Ubirajara Sabará foi, então, meu primeiro patrão. Homem inesquecível. Os 18 meses que trabalhei para ele serviram como um segundo curso superior. Aprendi muito com esse “matuto”, descendente de índios e negros; empreendedor nato, sentia cheiro de lucro e ia atrás. Seu irmão, também micro-empresário de algum sucesso, certa vez me disse: “Meu irmão tem é sorte. Tanta que, se um dia ele resolver encher um lote com esterco, no dia que o terreno estiver cheio, dão a notícia que merda virou dinheiro...
A empresa, especializada em produtos para tratamento de água, tinha muitos clientes entre as prefeituras, fornecendo aos serviços de água das cidades.
Pois fui contratado para implantar uma unidade de extração de calcário e produção de cal de alta pureza. O trabalho foi interessante, prazeiroso, e cansativo. Viajei, de “fuscão”, mais de 90 mil km em 18 meses.
Da convivência com Sabará ficaram algumas lembranças preciosas. Uma delas, frase sempre mencionada por ele quando pretendia adquirir algo: “Eu só compro na galinha morta”. É que, antigamente, vendia-se frango pelas ruas e os mais caros eram os animais ainda vivos, que seriam mortos depois de comprados. As “galinhas [já] mortas” eram mais baratas...
Outra imagem forte é dele, com a mão espalmada contra o peito, dizendo “quero saber qual é a minha parte”. Pois ele não entrava em nada do qual não pudesse ter algum lucro.
Tinha um conhecimento enciclopédico sobre quase tudo, porque tudo o interessava - podia virar dinheiro - e era preciso estar a par de tudo.
Uma vez, ao chegar no escritório, el me disse: "Hoje você não vai trabalhar, vai até a Telesp comprar umas linhas telefônicas pra mim. aproveite e compre pra você também". Obedeci e não me arrependi. Lucrei muito com aquela linha.
Infelizmente morreu num acidente na fábrica, um vazamento de cloro. Ele, corajosamente, entrou no local onde havia vazamento e fechou a válvula. Não sem antes inspirar gás de cloro, que queimou seu pulmão, já enfraquecido pela nicotina, e o matou.
Hoje, 30 anos depois, a Sabará é uma empresa forte e bem sucedida, tributo a um homem impar.

terça-feira, junho 19, 2007

74- PERIQUITO

Uma das muitas viagens que fiz nas férias com meus pais foi para Paraty. Fomos de “fusca”, em 5 – pai, mãe, irmã, primo e eu – pela estrada que vai da Via Dutra ao litoral. Parte desta estrada ainda guardava vestígios da época imperial, pois foi primeiro construída por D. Pedro I, monarca brasileiro na primeira metade do século XIX: estreita, tortuosa e linda!
Na volta, depois de ensolarados e espetaculares dias à beira-mar, paramos na serra para descansar e encontramos um morador da região, que trazia um par de periquitos jovens para vender. Depois de muita negociação, compramos ambos.
Nossa casa, em pleno centro de São Paulo, tinha um bom quintal com um abacateiro que tornou-se o poleiro preferido das aves. Nesta árvore, os periquitos ofereciam prova de serem animais gregários: toda vez que bandos que periquitos sobrevoavam a casa - algo bastante comum naquela época (não sei se ainda existem) – nossos bichinhos ficavam excitadíssimos, gritando sem parar enquanto subiam o abacateiro até o galho mais alto. E lá ficavam, chamando o bando até que este sumia nos céus.
O triste aconteceu quando fomos viajar por alguns dias. Deixamos os dois periquitos num dos cômodos da casa, com comida e água. Ao voltarmos, eles estavam mortos. Por alguma razão que me escapa à lembrança, uma bicicleta estava no mesmo cômodo da casa e eles enroscaram as cordinhas que tínhamos amarrado em seus pés para que não voassem pela casa. Ficaram presos à bicicleta, sem comida e sem água... e morreram à míngua!!!
Se ao menos tivesse tirado a porcaria da bike de lá! A culpa me corroeu por um bom tempo. Sei lá, talvez ainda me corroa... toda vez que um periquito voa grasnando sobre mim!

quinta-feira, junho 14, 2007

73- DE FRENTE PRO CRIME

Algumas cenas marcam a memória de tal forma que quando a rememoramos, parece que um filme se passa na mente com toda a cena refeita em seus mínimos detalhes.
Tinha meus dezoito anos e voltava pra casa tarde da noite, de ônibus, de algum compromisso no centro da cidade. O ônibus, bem vazio, seguia pela Av. Ipiranga, entre a Praça da República e a Av. da Consolação, e eu olhava distraidamente para o outro lado da avenida. Na calçada, um casal se olhava próximo a uma árvore; menos de dois metros os separavam.
Por falta de assunto mais interessante, fixei meu olhar no casal. Nesse instante o rapaz levanta o braço esticado na horizontal; a mulher faz menção de se mover, mas cai de costas ao mesmo tempo que vejo um brilho esfumaçado na mão estendida do rapaz; uma fração de segundo se passa e escuto o estampido sêco do tiro. Enquanto me esforço para olhar melhor, o rapaz avança, observa o corpo da mulher no chão, leva a mão à cabeça e seu corpo sofre um tranco, um pequeno pulo mais parecido com um forte tremor e eu ouço um segundo estampido enquanto ele cai na calçada...
Levantei-me num salto, assustado e incrédulo e gritei para o cobrador, o motorista e talvez duas ou três pessoas que estavam no ônibus: “Ali!! O cara atirou nela e suicidou-se!!!” As pessoas se alvoroçaram, mas o ônibus já havia deixado prá trás a cena do crime, e só consegui repetir pro pessoal, enquanto tudo continuava no mesmo ritmo, a cena passando na cabeça em câmara lenta: “Que loucura! Ele atirou nela e suicidou-se!”

terça-feira, junho 05, 2007

72- A INVASÃO DOS PANTERAS NEGRAS

Estávamos todos muito excitados e agitados. Mais de mil jovens estudantes, provenientes de mais de 50 países, reunidos na Hofstra University, Nova York, para três dias de orientação antes de cada um ir para uma cidade e uma família americana por um ano.
Além das reuniões de informação e orientação sobre vários assuntos, havia também muita festa, jogos e tempo para conhecer pessoas.
Mas, numa das reuniões, em um pequeno auditório da universidade, um pequeno e rude grupo de negros com cabelo “afro” interrompeu a palestra e começaram a esbravejar palavras de ordem sobre a opressão branca, o “black power” que se revoltava contra essa dominação, e como éramos parte dessa farsa promovida pelo imperialista governo americano.
O pequeno grupo de estudantes na sala ficou surpreso e intimidado por esta invasão, sem compreender direito o que acontecia. Tínhamos a impressão de que poderia haver alguma violência contra nós, estrangeiros mal-vindos. Mas nada aconteceu e em poucos minutos eles saíram da sala e fomos informados pelos palestrantes que eles eram universitários membros do famoso e temido “Panteras Negras”. Pena que não tínhamos nossas máquinas fotográficas conosco para registrar o acontecimento político do ano de intercâmbio, que mal começava. Também, se tivéssemos, quem se atreveria a apontar a câmera para um deles?!

Retomando...

Com muita alegria, e novas histórias, retomo a publicação semanal desta colcha de retalhos de lembranças, antigas ou recentes, de fatos que tem marcado minha vida.
Um dos muitos lugares que pude visitar durante este mes de férias foi os Estados Unidos, e é de lá que vem a história a seguir, nos turbulentos "anos 70".
Espero que gostem.

segunda-feira, abril 30, 2007

Intervalo...

Durante este mes de maio não postarei lembranças neste "O Tempo Passa...", mas trarei muitas outras para postar a partir de junho.
Portanto, não deixe de programar uma visitinha daqui um mes...
Até volta !!!

71- QUEBRANDO A CARA

A escola onde estudei do 4º ao 8º ano do ensino fundamental era uma tradicional escola privada paulistana, à qual só tive acesso porque meu pai tinha desconto, pois era pastor presbiteriano e a escola (a famosa Universidade Mackenzie) pertencia à igreja.
Uma das suas grandes vantagens era ter um bom conjunto de equipamentos esportivos, pois eram todos utilizados tanto pelo ensino fundamental como pelo médio e superior, campo de futebol, quadras esportivas, ginásio coberto, salão de ginástica; só faltava a piscina.
Duas vezes por semana minha classe tinha aula de educação física com o professor Progresso, grande sujeito. Eu adorava estas aulas, até fiz parte da equipe de ginástica olímpica da escola que participou de jogos escolares. Cheguei a ganhar medalhas, não individual, mas por equipe.
Uma vez estava em pleno jogo de futebol no campo. A bola “sobrou” no meio do campo, sem ninguém por perto, parecia “sem dono”. Desatei a correr em sua direção – era bem veloz na época – e percebi que um jogador adversário também corria, perpendicular a mim, em direção à bola. Chegamos no mesmo instante. Imaginei uma jogada fenomenal: dar um leve toque pra frente com a ponta do pé, deixar o adversário passar zunindo, e sair com a bola passando por trás dele. Beleza!
Mas não deu certo. Toquei a bola antes, mas o carinha já estava em cima, e não pudemos evitar o choque. Bati o rosto no ombro dele e – fiquei sabendo no hospital - quebrei o maxilar superior!!! A história de “como eu dei um drible fenomenal” virou “como fui parar no hospital por causa de um drible que deu errado”. Com cirurgia e tudo. Coisas da vida, né?

segunda-feira, abril 23, 2007

70 - A EMOÇÃO DO TANGO

Fomos, meio de sopetão, para Buenos Aires. Pela primeira vez, Elaine e eu estávamos juntos em terras portenhas.
Passeamos muito, considerando os poucos dias que estivemos lá. Visitamos o centro da cidade, “La Calle Florida”, parques, teatros, “El Caminito”, e outros lugares interessantes.
O que marcou mais foi a apresentação de dança que pudemos assistir uma noite. Uma interessante mistura de dança, música e teatro grego e portenho. Há muitos anos não assistia uma apresentação de boa dança ao vivo, num bom teatro, e isto me dava um prazer extra.
A parte mais argentina da dança era principalmente baseada em músicas de Astor Piazzola, o grande músico de Buenos Aires. Num certo momento, como era de se esperar, tocaram “Adiós Nonino”, talvez a mais famosa composição do autor.
Ouvi-a com prazer. Mas a música, aliada à dança adquiriu um tom mais forte, tocante, e fui me emocionando aos poucos, a ponto de lágrimas rolarem pela face. Foi o ponto alto da apresentação. Saí do teatro renovado, leve, inspirado. Como a música e a dança, quando feitas com amor e competência falam à alma!
Buenos Aires tornou-se mais querida por ter-me proporcionado esta linda experiência. Espero poder voltar um dia...

segunda-feira, abril 09, 2007

69- PRESENTE PERENE

Uma amiga da Elaine deu-lhe há alguns anos um vaso de orquídea, todo florido, por ocasião do seu aniversário. O vaso era tão lindo que decidimos fotografá-lo, para termos uma lembrança quando as flores morressem.

As flores enfeitaram a sala e deram alegria à festa que aconteceu com toda a família presente. Depois, murcharam e o vaso foi colocado no quintal.

No ano seguinte, para nossa surpresa, floriu novamente, justo no mês de aniversário da Elaine. E foi muito gostoso para ela, sentir-se como se fosse presenteada de novo pela amiga.

Assim tem acontecido todo ano. Apesar de não termos tido oportunidade de encontrar essa amiga com freqüência, ela continua a presentear minha esposa todo ano e a transmitir seu carinho e amizade através das flores da orquídea.

Sem querer, essa amiga deu-lhe um presente perene. Ao chegar a época, ficamos na expectativa de ver a orquídea florir, trazemos o vaso para a sala e curtimos sua amizade, retratada na beleza das cores.

quarta-feira, março 28, 2007

68- METIDO A BESTA

Trabalhava há pouco na ACM de Sorocaba, e aproveitava momentos de folga para praticar algum esporte. Basquete era um deles e o grupo com quem jogava era bem heterogêneo, com jovens e adultos com diferentes graus de habilidade no jogo.

Não sou alto, pelo contrário, com 1,70 m, minha altura não me ajuda muito, nem a habilidade. Mas jogava com gosto, empenhado em vencer.

Uma noite, no meio de um jogo, fiquei muito bravo com um colega por uma jogada ríspida e violenta, que quase me machucou. No calor da partida, fui pra cima dele decidido a brigar mesmo, “sair no braço”. Sorte que a turma do “deixa disso” e o bom humor do amigo me pouparam de um fiasco. Explico a seguir.

Passado o momento e a “braveza”, no vestiário, fui me desculpar com o colega e agradecer por não ter aceitado a briga. É que, com mais de um palmo de altura a mais e vários anos a menos, ele teria me dado uma surra de cachorro grande, eu ia apanhar pra “caramba”. Mas valeu pelas risadas que demos depois, rememorando o fato ridículo.

terça-feira, março 20, 2007

67- GRUPO SERGIO

Consta que foi a primeira rede de pizzarias “rodízio” de São Paulo. Isto lá pelo anos 70, muito tempo atrás...

Pois é, Elaine e eu sempre fomos apaixonados por pizza, mas, recém-casados, não tínhamos “um tostão furado” sobrando. Vivíamos na “maior pindura”.

Esforçávamo-nos para economizar. Assim, quando “sobrava um dinheirinho”, planejávamos um passeio, um jantar em grande estilo.

Nosso “programão” típico era o seguinte:

Saíamos de casa a pé pela Av. Domingos de Moraes, um longo caminho até um enorme restaurante do Grupo Sergio, todo iluminado e cheio de mesas. Ali, comíamos, cada um, dúzia de pedaços de pizza dos mais variados sabores, de vez em quando acompanhados por uma bebida dividida entre os dois - porque era cobrado à parte.

Voltávamos, logicamente, a passos lentos, para ajudar a digestão daquela montanha de pizza e para economizar o dinheiro do ônibus. Conversávamos, mãos dadas sobre o que íamos vendo pelo caminho e sobre assuntos que nos vinham à mente no momento. Pura simplicidade; pura felicidade.

Deus nos brindou depois com uma vida bem menos apertada, e tivemos oportunidade de saborear pratos finos em restaurantes mais sofisticados. Talvez não tão apreciados quantos as pizzas do rodízio do “Grupo Sergio”.

terça-feira, março 13, 2007

66- GASOLINA... NO PULMÃO !!!

Estava na casa de uma grande amiga, amiga tão chegada que sentíamos como se fosse membro da família. Ela chamava a si própria de “nossa irmã idiotiva” (uma adoção de “brincadeirinha”). Quando me casei, fiz questão de tê-la como minha madrinha, com muito orgulho.

Estávamos em um pequeno grupo de amigos, e quando pensamos em sair, tivemos um problema: o carro estava sem gasolina! A saída foi pegar “emprestado” um pouco de combustível do carro do pai dela.

Para fazer isso foi preciso um tubo de plástico, que enfiamos pelo bocal do tanque de gasolina e um pequeno vasilhame. Faltava fazer a sucção inicial para o líquido fluir do tanque para o vasilhame. O jeito foi agachar, “botar a boca” no canudo e sugar forte até a gasolina passar pelo bocal. Depois, ela fluiria por si o quanto quiséssemos.

No entanto, quando aspirei, o líquido veio rápido e entrou em minha boca. Cuspi rapidamente, mas não antes que o gás do combustível entrasse pela garganta, me deixando engasgado e sufocado. Levantei-me num salto e tentei puxar ar para os pulmões, mas não consegui. Tentei respirar novamente, e nada! Um princípio de pânico começou a se apoderar de mim. Meus olhos devem ter transpirado o medo, pois minha amiga, que é enfermeira, aproximou-se... e me deu um murro nas costas com toda a força que podia !!! Exalei o gás e pude inspirar ar puro novamente. Que alívio!!!

Fiquei horas com um horrível gosto de gasolina na boca, que me embrulhou o estômago. E com uma dorzinha – bem-vinda – nas costas. Apanhei e ainda agradeci !!!

quinta-feira, março 01, 2007

65- BOLA NO PEITO

Gosto muito de tênis – o jogo. Quando jovem jogava sempre que conseguia uma quadra e um parceiro. Durante os primeiros anos, minha raquete era uma “Procópio” de madeira. Ruinzinha, mas dava pro gasto. Quando morei nos EUA tive a chance de comprar umas raquetes melhores e baratas. Assim, pude convidar meus primos (que não tinham raquete) pra jogar comigo. Um deles era tido e havido como “fortão”, fama recebida por muitas razões, uma das quais descrevo abaixo.

Um dia, fomos eu e dois primos para as quadras da Cidade Universitária, em São Paulo. chegando, procuramos alguém com quem pudéssemos jogar duplas. Encontramos um japonês, um tanto magro, que se dispôs a formar dupla conosco.

Começamos o jogo, e aos poucos foi ficando mais “aquecido” e disputado. Num dado momento, o japonês, apertado por um bola difícil, devolveu-a alta, na esquerda do primo “fortão”. O que ele não sabia era que meu primo, além de forte – o que nem desconfiava – era também habilidoso com a esquerda. Ao ver a bola vindo alta na sua esquerda, jogou a raquete da mão direita para a esquerda e acertou um forte “smash” no campo adversário. A bola saiu com tal força e velocidade que os oponentes não tiveram chance de reação. Acertou em cheio o peito do pobre japonês, que caiu, com um gemido, e sem ar, sentado no chão da quadra.

Nada de mal aconteceu ao rapaz, mas quando se recuperou, perguntamos se havia machucado, e ele mostrou um círculo muito vermelho bem no centro do peito, que com o tempo, certamente ficaria roxo. Match point!!!

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

64- INVASÃO DE PRIVACIDADE

Logo que me foi possível, adquiri um telefone celular. Era um tijolão que mal permitia a conversa, caro e com uma pesada bateria que não durava nada, obrigando o uso de bateria de reserva. Mas achei que devia me incluir na nova tecnologia, como tinha feito com o microcomputador. Assim, fui me acostumando a usar o aparelho. Hoje, cada membro da família tem o seu.

Um dia, recebi uma chamada. Ao atender, a pessoa se identificou como “André, do departamento de atendimento ao cliente da Vivo” e começou com uma conversa mole que me levou a desconfiar que ele não fosse quem dizia ser. Recusei-me a conversar com ele e desliguei. Ao olhar a chamada recebida para identificar o número, vi que não era possível, pois no meu visor aparecia “número restrito”. Liguei para a Vivo, comunicando o fato e fui informado que a empresa não usava “número restrito” para falar com seus clientes. Ah, então, o “André” era falso mesmo!

Algum tempo depois, o mesmo “André” me liga novamente. Alertado por ver que a chamada era de “número restrito”, acusei o fulano de criminoso, disse que ia denunciá-lo para a Vivo, xinguei-o um monte e desliguei. Falei em seguida com a Vivo, denunciando nova tentativa criminosa.

Passaram-se alguns minutos e recebi, no telefone fixo em casa, uma chamada de uma paciente da Elaine (ela é médica), dizendo que não conseguia ligar pra ela. Tentei também, e não consegui. Liguei logo para a Vivo e fui avisado que alguém em meu nome havia ligado para eles, um tal de “André” e havia solicitado o bloqueio de todas as linhas, em razão de roubo!!! Só consegui desbloquear as linhas depois de duas horas conversando com os atendentes da Vivo. O safado havia se vingado do fato de não ter me enganado, fazendo-se passar por meu funcionário, fornecendo todos os dados solicitados pela Vivo, e pedindo o bloqueio das linhas.

Depois desse fato, a Vivo me orientou a manter uma “senha de acesso” para evitar que elementos não autorizados falassem em meu nome com a empresa.

Poucas vezes me senti tão injuriado. E, ao mesmo tempo tão impotente, pois simplesmente não podia fazer nada, a não ser lamentar. Pra desabafo, escrevi um longo e-mail explicando o acontecido e enviei aos amigos e jornais. Quase desisti de ter celular... “Haja !!!”

terça-feira, fevereiro 13, 2007

63- BOLÃO INÚTIL

Desde moleque ainda, torcia para o Santos F. C., o time de Pelé, Edu, Toninho e cia. Meu tio era corintiano “roxo”. Um dia ele passou em casa à tarde para me levar ao Pacaembu, próximo de onde eu morava, para assistir ao clássico Santos X Corinthians.

Chegamos no estádio perto da hora do jogo, e por isso não havia mais lugar pra sentar na torcida corintiana. Estávamos em pé, no alto das arquibancadas atrás de um dos gols, quando um grupo acenou do meio da arquibancada, mostrando que poderiam me acomodar entre eles. Fui pra lá e fui recebido amigavelmente, mesmo após dizer que era santista.

Disseram: “Então, ele fica com o bolão”. Eram cinco amigos, e haviam feito uma aposta: cada um sorteou um número de 7 a 11; quem tivesse o número do atacante que marcasse o primeiro gol, ganhava.

Peguei o dinheiro e passei-o para um dos rapazes. Ele me olhou desconfiado e disse: “Guarde-o. Você vai dar o dinheiro para quem tiver o número do artilheiro”. E eu respondi: “Pois é, você não tirou o número 10? Tome, o dinheiro é seu”. Todos deram risada, e procuraram não levar muito a sério o que eu dissera.

Começou o jogo. Passaram-se uns 15 minutos e um jogador santista leva a bola para a linha de fundo e centra. A bola vai para o centro da área, e lá, no meio da zaga corintiana, sobe um jogador negro, de uniforme branco, número 10 às costas. Com leveza e precisão, cabeceia a bola. Esta passa pelo goleiro que se atira desesperadora e inutilmente em sua direção e vai parar no fundo da rede. É goool... de Pelé!!!

Virei para o portador do número 10 e disse: “Não te falei que o dinheiro era seu?”

terça-feira, fevereiro 06, 2007

62- STRUDEL ESTRANHO...

Um dos meus primos tinha uma loja de alimentos congelados, em Santos. Os pratos, de fabricação própria, eram realmente deliciosos, feitos com capricho. Sempre que íamos a Santos, aproveitava a ocasião para trazer pra casa alguns congelados.

Certa vez, escolhemos uma bela peça de “strudel” de maçã, com 30 cm de massa folhada, fartamente recheada.

Algum tempo depois, resolvemos comê-la de sobremesa. Pusemos uma generosa camada de açúcar com canela sobre ela e levamos ao forno para esquentar.

Qual não foi a nossa surpresa quando, ao provar o primeiro pedaço, percebemos que a torta era de camarão!!! Tivemos que retirar a camada superior da massa folhada por estar coberta de açúcar e canela, para poder apreciar, em outra ocasião uma deliciosa “strudel” de camarões.

Quando me encontrei com meu primo de novo, fiz questão de fazer uma gozação com ele, contando que ele me havia vendido “gato por lebre”. Ele ficou muito surpreso, pois nunca havia acontecido um erro de etiquetagem de seus produtos, mas em vez de me pedir desculpas, devolveu a gozação com a frase: “Quem teve prejuízo fui eu! A torta de camarão é mais cara!!!”

quarta-feira, janeiro 31, 2007

61- SALVA VIDAS SEM QUERER

Uma das melhores coisas do acampamento da PV (Palavra da Vida) no verão era poder nadar na “semi” piscina: parte do lago havia sido preparado como uma piscina, com trampolim, borda de um lado e um acesso em rampa com areia de outro (a “prainha”). Mas a água continuava a ser a do lago: limpa, porém amarelada de argila, não dando muita visibilidade debaixo d’água.

Adorava o trampolim. Minha diversão favorita na piscina: pular do trampolim, nadar até a borda, subir para o trampolim e mergulhar novamente.

Uma tarde, quando me preparava pra mergulhar, dando saltos sobre o trampolim para pegar mais altura, ouvi uma voz meio nervosa gritando o meu nome. Saltei, tentando identificar quem me chamava e vi que a pessoa, à beira da piscina, apontava pro meio dela. Afundei na água e ao voltar a tona, olhei para onde ela apontava... e não vi nada. De repente, surgiu a cabeça de um moleque da minha idade, debatendo-se lentamente. Nadei com cautela até ele, temendo que fosse alguma “aprontação” pra cima de mim. E o garoto continuava a subir e descer lentamente. Só quando cheguei bem perto, percebi que realmente precisava de ajuda. Afundei, dando a volta nele, subi por trás, agarrando firmemente o seu tórax com as duas mãos, e nadei com as pernas em direção à “prainha”. O rapaz estava bem, não tinha bebido muita água e logo se recuperou. E eu virei “herói”, sem querer e meio a contragosto.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

60- VERÃO QUENTE

Quando mudamos para Ribeirão Preto, passamos por um processo difícil de adaptação; acho mesmo que sem sucesso, pois acabamos nos mudando de lá também. Um dos motivos foi o calor excessivo, praticamente o ano todo, que minava as forças e a vontade (já pouca) de trabalhar. A sede, o cansaço e o suor eram constantes. E no inverno, a pequena queda da temperatura era anulada pelo cheiro horrível de cana-de-açúcar sendo cozida nas usinas de açúcar e álcool da região, o famoso “garapão”, ugh!

Durante um carnaval que passamos lá, recebemos a visita de uma cunhada e seu marido, ambos pouco mais novos do que nós, e sem filhos. Foram dias muito gostosos, com passeios, muito papo, comida e bebida. O que mais contribuiu, porém para nosso bem estar foi a piscina de armar das nossas crianças. Com 2 e 3 anos de idade, a piscina de montar que compramos pra eles era bem pequena, mas ótima para se divertir e refrescar.

Pois não tivemos dúvida, quando não estávamos passeando, sentávamos na piscininha, encostados cada um num canto dela e uma banqueta do lado de fora, onde ficavam a cerveja e os petiscos. Ligamos um som e passamos horas e horas no papo.

Para o observador externo, a cena era ridícula: 4 marmanjos naquela minúscula piscina de criança, mal cabendo nela, meio bêbados, meio moles de calor, falando da vida alheia, contando piadas, e sonhando com o futuro, todo ainda pela frente.

Na época, parecia que era uma opção pobre por falta de outra melhor. Agora, lembrando bem, creio que seria a melhor opção, mesmo que outras houvesse. Era felicidade...

sábado, janeiro 13, 2007

59- CISNE NEGRO... E BRAVO !!!

Estou, no momento em que escrevo, em Brasília, aonde não vinha há muitos anos. Uma das últimas vezes foi na década de 70, com um colega da empresa, a trabalho. Além do trabalho, reservamos algum tempo para visitar os grandes monumentos utilitários da capital brasileira: a Catedral, o Palácio do Itamaraty, o Palácio da Justiça, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional. Neste último, ficavam os grandes cisnes que antes moravam no Palácio Rio Branco, no Rio de Janeiro, antiga sede do Itamaraty.
Impressionado pela beleza e tamanho dos animais, tentei me aproximar deles, oferecendo algum alimento, como prova de amizade, um pedaço de pão, talvez. Pra quê!!! Um bicho, em vez de me agradecer e comer o pão, esticou o longo pescoço, abriu as enormes asas e começou a investir pro meu lado. Fui me afastando, lentamente a princípio, e depois correndo pra longe do “lago” e do feroz animal. Pra diversão de todos os presentes, inclusive do meu colega, de quem tive que agüentar muitas risadas ainda.

sábado, janeiro 06, 2007

58- CONVERSA BOA... PRA VOVÓ DORMIR !

Vovó Ambrosina gostava de fazer crochê. Com 60 anos de idade e diabética, ela tinha sua movimentação restrita e, portanto, gostava de sentar numa cadeira de balanço enquanto a gente (eu e meus primos) brincava pelo chão da sala.
Era comum, também, percebermos, depois de algum tempo, que a vovó tava cochilando, o crochê no colo, a cabeça já reclinada na poltrona. Preocupados em não acordá-la, não por medo, mas porque a queríamos bem, começávamos a falar baixo, cochichando mesmo. Mas o nosso silêncio acabava acordando a vovó, que dizia com os olhos semi cerrados: "Não parem, meninos, continuem a conversa. Tá boa pra dormir... "