segunda-feira, agosto 28, 2006

39- GATO ATROPELADO

Os filhos tinham 4 e 5 anos de idade. Nessa idade não há como fugir de ter um gatinho na casa. Era um gato comum, filhote ainda e ficava no quintal da casa, esperando receber atenção de qualquer um que passasse por perto.
Estávamos atrasado para algum compromisso. As crianças estavam fora (na escola ou outra atividade). Saímos apressados e, ao dar ré no carro, para tirá-lo da garagem, senti algo estranho sob o pneu, ao mesmo tempo que ouvi um miado abafado... Parei preocupado fui ver o que havia acontecido. O gato estrebuchava em convulsão. Não havia nada a fazer (nem tempo pra isso). Deixei o corpo do bichano num canto da garagem e fomos embora.
A única preocupação foi a de voltar antes das crianças. Eles não poderiam ver aquele gatinho morto, seria muito triste. Precisava me descartar do corpo; se o gato simplesmente sumisse, poderíamos arrumar outro mais tarde, sem grandes traumas.
Mas, qual foi a nossa surpresa, o bicho não estava mais lá! Mais tarde ele apareceu, com fome e aparentemente normal.
Não sei se os felinos tem sete vidas, mas que este teve pelo menos duas, teve!

terça-feira, agosto 15, 2006

38- AMIGO É PRA ESSAS COISAS

Na faculdade é inevitável a formação de pequenos grupos de alunos (as inevitáveis “panelinhas”), que por empatia se unem nas diversas atividades e situações da vida universitária.
Eu não era diferente. Tinha a minha, amigos com os quais fazia os trabalhos e pesquisas, estudos para provas, companhia nas excursões curriculares - que algumas vezes duravam vários dias.
Numa dessas viagens, conversávamos no ônibus da escola e o assunto voltou-se para nossos problemas pessoais. Discutíamos o que, como e porque o colega devia se comportar e o colega não concordou com minha opinião. Meus argumentos eram sólidos, o que perturbou o colega a ponto de ficar bravo comigo e estourar dizendo: “A vida é minha, faço o que quiser. Você não se meta na minha vida, ninguém te deu o direito de interferir”. Eu retruquei na hora: “Tenho todo o direito de me meter na sua vida, sim. Sou seu amigo e por isso não só tenho o direito como até a obrigação”.
Fui pra minha poltrona. Passaram-se alguns minutos e meu amigo apareceu no corredor. Meio “desemxabido”, sentou-se no braço da poltrona e disse: “Você tá certo, cara. Se meus amigos não tiverem a liberdade de me dizer o que acham que seja o melhor pra mim, mesmo que eu não goste, quem dirá?” E voltou para seu lugar.
O assunto morreu ali. Logo depois estávamos ocupados com qualquer outra coisa, nem me lembro o quê. Não mencionamos mais o incidente. Mas eu nunca me esqueci. Creio que o conceito ainda é válido hoje, eu acho.

quinta-feira, agosto 10, 2006

37- Ah! A PRAIA!

Quando se é criança, morando numa selva de pedras como Sampa, a praia exerce uma atração mágica: água, espaço, céu, horizonte, ondas, sol. Tudo contribui para a fascinação.
Imagine então, a excitação de meia dúzia de moleques, primos, indo para a praia com a Jô (era tia, mas não gostava de ser chamada assim)!!! Era demais.
Chegamos em Praia Grande de carro, à noite, e nos instalamos num pequeno apto.
Pela manhã, muito cedo mesmo, fui acordado por meus primos que me chamavam ao banheiro. O dia amanhecera chuvoso e cinza, mas nada diminuía o entusiasmo da turma. Como devíamos esperar a tia acordar e nos dar café da manhã antes de sairmos, estavam todos apinhados uns sobre os outros, olhando pela minúscula janela do banheiro. Do nosso apto, era o único lugar da onde se divisava o mar e a praia, meio que entre prédios. Mas dava pra ver as ondas chegando na areia cinza, ao longe.
Por que será que nos sentíamos assim, embevecidos por um céu, praia e mar cinzas e longínquos? Por que será que a imagem desta cena me é tão nítida que chego a ouvir o murmúrio das ondas e sentir o aroma salgado do mar? Não sei...

quinta-feira, agosto 03, 2006

36- CRIANÇAS

Nossos filhos são nosso maior tesouro, dizem. Concordo. E acumulamos jóias preciosas na memória, daquilo que nossos filhos foram ou fizeram, a cada etapa da vida. O álbuns de fotografia nos trazem à lembrança fatos e situações ternas ou hilárias que guardamos com carinho no coração. Outros fatos não estão registrados em imagens, mas temos nítida lembrança deles. Eis alguns:
1- Recém engatinhando, levamos nossa filha pela primeira vez à praia. Ela adorou!!! Curtiu o mar, apesar de insegura, as ondas e tudo o mais. Estendemos uma esteira na areia para que ela tomasse um pouco de sol. Depois de alguns instantes distraída com os brinquedinhos que a acompanhavam, ela se dá conta do espaço imenso à sua volta, e resolve engatinhar. Chega à beira da esteira e olha curiosa e interessada para a areia fina e branca da praia. Então, lenta, mas firmemente, leva a palma da mão até a areia, toca-a e retrai... O movimento é rápido, como se tocasse ferro quente, o corpo e o rosto arrepiam-se e transparecem surpresa, nojo, o inesperado. Olha para a palma da mão, vê a areia e limpa-a na esteira. Repete o movimento em direção à areia, lenta e firmemente. Novo arrepio. Pai e mãe lutam para não explodir em gargalhadas, interrompendo assim o momento mágico da descoberta. Inútil. Na terceira vez não há como resistir. Inesquecível!
2- Chegada a fase de diversificar a alimentação, procurávamos dar coisas diferentes aos filhos, com reações opostas. A menina, precavida, tinha a tendência a dizer que não gostava de tal comida antes mesmo de provar. Seu irmão tinha reação diferente: aceitava experimentar a novidade. Ao primeiro bocado, ele fazia uma careta como se não tivesse gostado, chegando, às vezes, a se arrepiar. Mastigava a comida, engolia e quando perguntado se queria mais... aceitava! Era tão divertido que chegávamos a dar-lhe novidades para experimentar só pra curtir essa reação tão contraditória. Hoje, com mais de 20 anos, ainda gosta de experimentar novos sabores, mas não faz mais aquela cara engraçada!