sexta-feira, março 31, 2006

7- MASCOTE

Um sagüi. Aos cinco anos ganhei um sagüi!!! A minha alegria e entusiasmo só podiam se comparar ao orgulho de ter tal animal. Ele veio de Salvador, no bolso do paletó do terno de meu pai, dentro do avião. Sorte do meu pai que o bichinho tenha ficado mareado com a viagem; ficou quietinho... e as aeromoças nem desconfiaram!
Quando eu estava em casa, o macaquinho ficava comigo, nos ombros, sobre a cabeça, muito atento, manso e divertido. O brinquedo ideal para uma criança como eu, que pouco saía do pequeno apartamento onde morava, em São Paulo. Afinal, não havia televisão, videogame, computadores nem brinquedos eletrônicos.
Um dia o pequeno sagüi conseguiu escapar pela porta da sala, desceu as escadas e saiu do prédio para a rua, onde foi atacado e morto por um cachorro. Minha tristeza foi indescritível! A única coisa a fazer foi providenciar um enterro singelo no terreno baldio que havia no fim da rua. Muitos anos depois me dei conta que, sem querer, havia contribuído para a ameaça de extinção desses indefesos bichinhos. Mas, talvez sua vida tenha servido ao propósito de criar em mim este amor pelos animais que hoje se revela no fato de minha filha ser veterinária de animais silvestres...

quinta-feira, março 30, 2006

6- GLUTÃO

Abro parentesis nas minhas reminicências para contar, a pedido da prima, duas historinhas do nosso primo, das quais não fui testemunha, mas aconteceram, sim.
Um primo era tido na adolescência como glutão, apesar de não ser obeso (hoje é). Seu irmão mais novo aniversariava e a tia deu-lhe de presente comer na Pizzaiolo da rua Pamplona. Ele foi junto.
Pediram a primeira pizza grande, comeram ávidos e responderam com um animado "sim!" à pergunta se queriam mais. Acabada a segunda pizza grande, o aniversariante já satisfeito, responde "sim!" à pergunta, sem muito entusiasmo, mais para acompanhar o irmão (que balançava feliz a cabeça afirmativamente) do que por apetite (afinal o aniversário era dele, seu irmão não iria comer mais do que ele!).
Começam a comer a terceira pizza. Lá pela segunda fatia pra cada um, o aniversariante empurra o prato com um misto de horror, repulsa e arrepio e diz: "argh, não aguento mais!!!" ao que seu irmão, mais do que depressa responde: "ô, então passa pra mim que eu como..."

A segunda historinha passa-se numa festa do grupo escoteiro do qual eu e dois de seus irmãos fazíamos parte. Na festa, confraternizavam-se os familiares dos escoteiros e meu primo foi com a tia. No meio dos comes e bebes, a festa animada, meu primo vem até a tia e diz, muito contrariado: "Jô, quero ir embora". Como a festa estava boa e tinham chegado há pouco, ela perguntou o porquê. "É que eu não aguento mais comer." Minha tia argumentou que ele parasse de comer então. Simples. Ao que ele retrucou: "ah, mais eles (os garçons) vem assim com a bandeja na sua frente oferecendo ó, eu não resisto e como!"
Sobre ele há muitas outras histórias, que dariam pra escrever um livro hilariante. Ficam para uma próxima.

quarta-feira, março 29, 2006

5- BANHO DE MAR

Cheguei aos EUA com 18 anos, para um ano de intercâmbio. A família com quem iria morar me esperava no aeroporto com as malas prontas para irmos à praia e muita curiosidade sobre aquele rapaz “latino”, de um país desconhecido. Eram férias de verão, e queriam passar alguns dias de lazer comigo, para nos familiarizarmos mutuamente, antes de começarem as aulas e a rotina na pequena cidade onde moravam. Primeiro dia, todos ainda um pouco tensos, fomos para a praia depois do café da manhã, com alguns amigos deles, num grupo de 8 a 10 pessoas. Fiquei na areia por algum tempo, tentando conversar, pois apesar de ter estudado 4 anos de inglês, eu praticamente não entendia uma palavra que diziam, até que me convidaram para experimentar a água. Aceitei o convite, levantei-me e comecei a tirar a bermuda justa que vestia por sobre a sunga de piscina. Notei que todos me olhavam, sem falar nada, mas que havia um certo espanto nos rostos. Quando baixei a bermuda e viram que eu estava de sunga, ficaram aliviados e caíram na risada. É que lá o costume era nadar de bermudas, e, ao me verem tirá-la, pensaram que no Brasil se nadasse nu...

terça-feira, março 28, 2006


Feliz com a familia Posted by Picasa

Elaine � alegria... Posted by Picasa

4- POLICIA PARA QUEM PRECISA

Quase adolescente, ter uma irmã quatro anos mais nova pra cuidar é a perfeita definição de tortura. Mas umas poucas vezes não consegui escapar e, desta vez, caminhava pela avenida Paulista com ela a tiracolo. Precisávamos cruzar a esquina onde havia um guarda dentro de uma guarita e muito tráfego. Aguardamos o momento propício e quando atravessávamos a rua, um carro fez a conversão à direita e quase nos atropelou... e ainda por cima xingou a gente. Olhei para o guarda, impassível, e reclamei com ele por não ter feito nada contra o motorista doido. O guarda me mandou seguir meu caminho, o que me deixou furioso por não dar a mínima pra segurança de minha irmã. Xinguei-o. Ele desceu da guarita, veio até mim e deu-me um tapa no rosto, dizendo: “Se você não sumir agora, seu merdinha, vou levá-lo para a delegacia”. Saí com minha irmã chorando de medo e eu chorando de raiva, prometendo a mim mesmo denunciá-lo, me vingar dele. Nunca o fiz.

segunda-feira, março 27, 2006

3- MAROTO !

Aos 9 anos, um cão é, sem dúvida, o melhor amigo de um menino. O meu não era exceção, esperava por minha volta da escola, todo dia, no alto da coluna do muro da casa, e corria para encontrar-me assim que eu aparecia ao longe, na rua. Era uma festa! Tudo corria bem até que meus pais me deram 2 coelhinhos... Puxa vida!!! Chegava em casa e ia direto ver aquelas duas coisas fofinhas, que ficavam num cercado na lavanderia. “Nego”, o cão, ficava meio esquecido, me rodeando enquanto eu me divertia com os coelhinhos.
Um dia, ao voltar da escola, estranhei a ausência do Nego no portão para me receber, chamei-o varias vezes... e nada! Assim que entrei em casa, esqueci-me dele e fui ver meus coelhinhos. Espantado, dei com meu cachorro na lavanderia. Todo compenetrado, Nego “sorria” pra mim com o rabo, sentado dentro do quadrado onde ficavam os coelhos... aguardando meus carinhos e atenção! Corri em direção ao cercado, temendo o que iria encontrar dentro dele: sangue e restos de pelos. No cantinho do quadrado, tremendo de pavor, mas incólumes, estavam os dois coelhos. Nego queria apenas a atenção de seu dono novamente, nada tinha contra os bichinhos no quadrado...

2- ALVORADA CAPIM !

O cansaço era imenso. Após uma semana em um acampamento escoteiro no Rio de Janeiro, com muita chuva, estávamos de volta exaustos, apesar de sermos energéticos adolescentes de 14 anos. Toda manhã, antes mesmo do café da manhã, tínhamos de cobrir o chão do acampamento com capim cortado, a fim de evitar sua transformação em imenso barreiro. Mas, finalmente, o sofrimento chegara ao fim, e estávamos de volta à minha casa. Meu primo, nem esperou o jantar, deitou-se de roupa, atravessado na cama. Dormia profundamente quando o jantar ficou pronto, e meu pai o chamou, imitando a voz do chefe escoteiro: “Alvorada! Alvorada capim! Alvorada capim!” Meu primo, angustiado pelo retorno do pesadelo que ele pensava ter acabado, começou a chorar... até acordar de vez e perceber que tratava-se de uma brincadeira!

1- CAFÉ DA MANHÃ ?

Meu primo e eu, adolescentes, nos divertíamos à beça (gíria antiga) na casa de praia de uma tia, lá no maravilhoso nordeste brasileiro. Após o jantar, servido por volta das 18h, meu primo esticou-se na cama cansado e caiu no sono. Noite quente, todos da casa se reuniram na sala-de-estar para um dedo de prosa. A empregada aproveitava para deixar preparada a mesa do café da manhã. Próximo das nove da noite, meu primo aparece, grogue de sono. Olha para a mesa posta para o café da manhã, olha para nós, sentados nos sofás, dirige-se para a mesa e senta-se. Ao perceber que a conversa parara e que todos o olhavam intrigados, retrucou: “O que foi, não posso tomar meu café, não?” Risos gerais, ele pensava que já fosse manhã do dia seguinte...

sexta-feira, março 24, 2006


Este sou Eu! Posted by Picasa

Prólogo

Diz o ditado que o homem, para se realizar, deve criar um filho, plantar um árvore e escrever um livro. Por muitos anos, acalentei a idéia de que poderia, um dia, ter algo para dizer, e quando este momento chegasse, escreveria um livro que faria diferença na vida das pessoas, que mudaria para melhor, mesmo que um pouco, o mundo. Mas, minhas certezas na vida foram se esvaindo à medida que o tempo passava, e as dúvidas aumentaram com a idade. Consolaram-me as palavras dos Engenheiros do Havaí na bela “Infinita Highway”:
“...eu posso estar completamente enganado,
eu posso estar correndo pro lado errado,
mas a dúvida é o preço da pureza,
e é inútil ter certeza...”
Tenho a esperança de estar na direção certa, que um dias os motivos serão desvelados e tudo passará a ter significado. No entanto, neste ponto, não possuo lições de vida pra ensinar, nem a habilidade de um novelista. Passei a invejar os autores que escreviam bem, com o conteúdo de quem sabe o que faz. E quase desisti do velho provérbio.
Somente agora, depois dos 50 anos de idade, percebi que a vida fala por si – não preciso ter uma mensagem, ou um roteiro de novela para escrever algo. Devo, especialmente, aos escritos de Rubem Alves (“Um livro são pedaços de mim espalhados ao vento como sementes, para irem nascer onde o vento as levar.” – Aprendiz de Mim), a coragem de ousar por no papel o que me atrevia, no máximo, a relatar aos amigos, em rodinhas para jogar conversa fora. Portanto, caro leitor, escrevo sobre o que vivi, ri ou chorei, e que, de algum modo, ficaram na memória. Não me move a pretensão do ensino, nem a ilusão da criatividade, nem o impulso artístico. Nas palavras de Sá e Guarabyra:
“um cavaleiro na estrada sem fim,
um contador de uma historia de mim,
vivo do que faz meu braço,
meu braço faz o que terra manda,
voa tristeza, voa tempo, voa vento... voa...”
(“Quem Saberia Perder”).
Não sei quantas pessoas irão ler estas reminiscências, nem o que vão pensar a respeito, mas se minhas lembranças e a maneira como eu as conto fizerem o leitor sentir um sorriso maroto surgir no canto da boca, ou uma lágrima transbordar nos olhos, serei agradecido a Deus por me impor este fardo.

Prá Quê Um Blog?

Depois que fiz um blog pro meu pai, a fim de poder divulgar alguns dos muitos escritos dele, comecei a pensar "por que não um blog meu?". A dúvida deve-se ao fato de não saber o que poderia colocar que pudesse ser de algum interesse para alguém mais além de mim mesmo.

Mas tenho alguns escritos também, rascunho de um possível livro de memórias no futuro (não tão distante, visto que já passei dos 50 anos). Sabe como é: criei filhos (a Dani e o Rica); plantei algumas árvores (moro numa chácara)... só falta escrever um livro! Mas vai que o livro não saia nunca do rascunho, pelo menos num blog ele será publicado, não é?

A intenção é divertir com coisas reais, que aconteceram comigo em diversas épocas e situações, mas também possibilitar a reflexão sobre a vida, seus valores e emoções, o que passa, o que fica...

Espero que gostem! De qualquer forma, gostaria muito que voces comentassem, sintam-se à vontade!

Um grande abraço
Rubens