terça-feira, setembro 25, 2007

87- MEIA DÚZIA DE DOIS OU TRES...

Aos doze, treze, quatorze anos de idade, é muito difícil levar a vida a sério. Levar os estudos a sério então, impossível. Mas eu era bom aluno, sempre entre os “five top” da minha classe, no Ginásio Mackenzie, de aproximadamente 40 alunos, todos do sexo masculino.

Depois do segundo ano juntos, os colegas tornam-se amigos e mais – cúmplices. Era complicado para os professores nos controlarem.

Havia um, professor de português, que dava aulas há muito tempo. Para nós, era um velho. Provavelmente não. Devia ter uns quinze a vinte anos de carreira e estar ne meia idade. Mas era meio ranzinza, isto ele era. Dava broncas, mandava alunos para a sala do diretor, era severo nas notas. Gostava de mandar quem fazia gracinhas para o “quadro negro” e então fazia perguntas difíceis só para desmoralizar o coitado. Freqüentemente, o aluno tentava, inutilmente, pensar numa resposta e rapidamente o professor ralhava: “Vamos, lerdão!”. E dava um sorrisinho de quem havia, também, dito uma “gracinha

Quando passávamos dos limites, ou aprontávamos alguma, ele nos punha de castigo, dando-nos um longo discurso de repreensão. Ao perceber que tinha exagerado nas críticas à classe, ele tentava consertar dizendo: “A turma não é ruim, não. É só uma meia dúzia de dois ou tres que estragam...” Frase que nunca me esqueci.

terça-feira, setembro 18, 2007

86- "PHD" !!!

No final do século XX, o secretário de saúde de minha cidade convidou-me para dar uma palestra para seu “staff”. Dias depois, ele me convidou para fazer parte de sua equipe de assessores! Senti-me lisonjeado pelo convite, e aceitei. Embarquei de cabeça nos assuntos de saúde, e por dois anos e meio dediquei-me a ajudar o desenvolvimento do sistema de saúde pública da minha cidade. Foi bom, muito bom, mas... sempre tem um “mas”, não é?

Paulatinamente fui-me distanciando do secretário, enxergando, com outros membros do “staff”, um caminho para a saúde pública que o secretário não via, ou não queria ver. Aliada a um centralismo gerencial, a falta de delegação, certa superficialidade no trato de assuntos importantes, e dificuldade em trabalhar em equipe, essa distância tornou difícil o trabalho. Mas eu era teimoso, não queria desistir e o secretário parecia disposto a me manter.

Ao final do primeiro mandato, não me envolvi ativamente na campanha eleitoral; o prefeito foi reeleito e vislumbrou-se uma chance de se livrarem de mim: a mudança da equipe do prefeito em função da nova distribuição política do poder municipal. Em vez de me chamar e pedir minha demissão, tal como tinha feito quando me contratou, foi um auxiliar do prefeito que me convocou ao gabinete e me demitiu, no meio do dia, sem me dar prazo para entregar o cargo, organizar os documentos, deixar tudo preparado para quem fosse me substituir. Deu a impressão que eu era um elemento perigoso, que poderia causar prejuízo se ficasse ali um dia a mais.

Ao despontar do novo século, tornei-me um “phd”: por hora desempregado!!!

terça-feira, setembro 11, 2007

85- ENFRENTANDO A JUSTIÇA

Foram anos felizes aqueles passados na Rua Canindé, no charmoso e tranquilo bairro do Jardim Paulistano, em Sorocaba. As crianças iam à escola ali perto e brincavam com os vizinhos, uma turminha formidável de excelentes meninos e meninas.
Um dia resolveram jogar volei, ali mesmo na rua, e fizeram a rede com uma cordinha esticada de um lado ao outro da rua. Quando algum carro se aproximava, o jogo parava e erguiam com uma vara o cordão para o carro passar.
Um garoto da vizinhança, que não fazia parte da “turma” aproximou-se de bicicleta. A pequena inclinação da rua permitia que alcançasse uma razoável velocidade. Em vão as crianças tentaram avisá-lo do perigo. Ele não viu a cordinha e chocou-se contra ela no pescoço, levando um tombo e ferindo-se sem gravidade. As crianças, assustadas, acorreram acudir o garoto, que ficou bravo e foi pra casa chorando.
Meses depois, recebi em casa uma intimação da justiça para que meu filho, de apenas 10 anos, comparecesse à promotoria. Fomos, Elaine e eu, junto com o garoto, recebidos por uma jovem promotora, que, muito séria, disse que estava investigando uma acusação ferimentos provocados a uma menino e que meu filho estava envolvido no caso e deveria prestar depoimento. Dissemos que ele prestaria qualquer informação que pudesse. Foi quando a promotora sugeriu que iria interrogá-lo a sós. Afirmei que o menino estava sob responsabilidade dos pais, por ser menor de idade, e os pais responderiam por ele. Portanto, qualquer interrogatório seria feito com nossa presença. Ela insistiu, quis dar a entender que quem decidia era ela, não eu; que eu me recolhesse à minha insignificância de pai de infrator.
Fiquei uma fera – quem já me viu furioso sabe o que isto significa – quase pulei no pescoço da “autoridade”. Na época, trabalhava na Secretaria da Criança e do Adolescente e conhecia o Estatuto “decor e salteado”. Sabia que ela não podia agir assim, por isso, finquei o pé.
Para evitar um escândalo maior, a Elaine veio em seu socorro e sugeriu que ela entrasse com o filho na sala da promotora. Eu esperaria do lado de fora. Eu assenti e a promotora não teve jeito, senão aceitar também. Passaram-se meses e recebemos nova convocação. Ao chegarmos ao forum, outra promotora nos recebeu. Olhou para o Rica e perguntou a idade dele. Quando soube, murmurou “tá tudo errado”, olhou-nos com misto de pena e contrariedade e disse: “desculpe-me, ele não é adolescente, não deveria ter sido intimado dessa forma, a colega – promotora substituta – fez tudo errado. Vou anular o caso e pedir o arquivamento desse processo imediatamente. Está bem assim?”. Nós consentimos e votamos pra casa aliviados e felizes. Mas pensando: não fosse a incompetência da primeira promotora, não precisaríamos ter passado por nada disso!!!

terça-feira, setembro 04, 2007

84- MEUS QUINZE MINUTOS DE FAMA

Instado pelo post do Paulo Brabo em 20 de agosto de 2007, vou contar-lhes sobre os meus 15 minutos de fama. Eu já os tive. Duraram seis meses.
Foi assim. Um dia fiquei sabendo que o recém eleito prefeito de minha cidade havia convidado um amigo meu para que implantasse um departamento pioneiro no Brasil: a Secretaria da Criança e do Adolescente - SEMEAR.
Entusiasmado com a relevância do papel que meu amigo estava prestes a assumir, telefonei-lhe, parabenizando-o e aproveitei para, na brincadeira, pedir-lhe um emprego. Ele, sério, respondeu: “venha falar comigo”. Fui, e saí contratado para ser seu assessor!
O trabalho foi insano e gratificante. A recém criada secretaria tinha apenas 2% do orçamento municipal, mas começou projetos, programas e idéias ousadas, pioneiras e relevantes.
Depois de dois anos à frente da SEMEAR, o prefeito pediu que o secretário assumisse a Secretaria de Educação e Cultura, a maior da Prefeitura. Obviamente ele aceitou mais esse desafio, onde fez também um ótimo trabalho. A novidade foi ele ter me indicado para substituí-lo, e o incrível foi o prefeito concordar, em caráter transitório! Assim, no dia 01 de julho de 1995, tornei-me Secretário Municipal da Criança e do Adolescente de Sorocaba.
Fui importante por seis meses. Era entrevistado por jornais e rádios, cumprimentado na rua, tinha carro e motorista à disposição, mencionavam meu nome quando estava presente em qualquer solenidade, tinha assento à mesa das autoridades.
Depois, no início de 1996, questões políticas me levaram de volta à doce situação de plebeu. Mas valeu, e muito. Foi uma experiência rica e valiosa. Posso dizer, porém: ser “famoso” não tá com nada!!!