quarta-feira, junho 27, 2007

Laughing Blogger Award

Pois é, este blog não tema intenção de fazer rir. Mas lembranças são assim: às vezes até as trágicas ou tristes nos fazem rir.
Fico feliz em saber que alguém se diverte comigo. No caso, o Lou, que me concedeu esta honraria. Vindo dele, é mais significativa, pois ele é engraçado até em funeral...
Minha tarefa é indicar blogs engraçados. Aqui vai:

Conversas & Pensamentos - tem ótimas charges !!!
Querido leitor - a produtora do "Pânico" só poderia ser engraçada, mas é também inteligente!
All Quad - apesar de ser um blog sobre arte de animação, os trabalhos apresentados são sempre muito, muito bons, bem humorados, leves... artísticos!

Acessem o blog da Meire pra ver os outros agraciados

Por enquanto, esses três. Depois indico mais dois, ok?

terça-feira, junho 26, 2007

75- O PATRÃO

Depois de sair da faculdade, meu primeiro patrão foi o Sabará. Antes eu havia trabalhado, durante a faculdade, como professor de inglês.
Antes, ainda, trabalhara algumas horas por semana, lá na loja de móveis do meu “pai americano”, durante o intercâmbio. Mas foram experiências curtas e que não carregavam o peso de ser um emprego pra valer. Esse, não. Havia sido contratado como “geólogo” formado e tinha status e responsabilidades maiores.
Ubirajara Sabará foi, então, meu primeiro patrão. Homem inesquecível. Os 18 meses que trabalhei para ele serviram como um segundo curso superior. Aprendi muito com esse “matuto”, descendente de índios e negros; empreendedor nato, sentia cheiro de lucro e ia atrás. Seu irmão, também micro-empresário de algum sucesso, certa vez me disse: “Meu irmão tem é sorte. Tanta que, se um dia ele resolver encher um lote com esterco, no dia que o terreno estiver cheio, dão a notícia que merda virou dinheiro...
A empresa, especializada em produtos para tratamento de água, tinha muitos clientes entre as prefeituras, fornecendo aos serviços de água das cidades.
Pois fui contratado para implantar uma unidade de extração de calcário e produção de cal de alta pureza. O trabalho foi interessante, prazeiroso, e cansativo. Viajei, de “fuscão”, mais de 90 mil km em 18 meses.
Da convivência com Sabará ficaram algumas lembranças preciosas. Uma delas, frase sempre mencionada por ele quando pretendia adquirir algo: “Eu só compro na galinha morta”. É que, antigamente, vendia-se frango pelas ruas e os mais caros eram os animais ainda vivos, que seriam mortos depois de comprados. As “galinhas [já] mortas” eram mais baratas...
Outra imagem forte é dele, com a mão espalmada contra o peito, dizendo “quero saber qual é a minha parte”. Pois ele não entrava em nada do qual não pudesse ter algum lucro.
Tinha um conhecimento enciclopédico sobre quase tudo, porque tudo o interessava - podia virar dinheiro - e era preciso estar a par de tudo.
Uma vez, ao chegar no escritório, el me disse: "Hoje você não vai trabalhar, vai até a Telesp comprar umas linhas telefônicas pra mim. aproveite e compre pra você também". Obedeci e não me arrependi. Lucrei muito com aquela linha.
Infelizmente morreu num acidente na fábrica, um vazamento de cloro. Ele, corajosamente, entrou no local onde havia vazamento e fechou a válvula. Não sem antes inspirar gás de cloro, que queimou seu pulmão, já enfraquecido pela nicotina, e o matou.
Hoje, 30 anos depois, a Sabará é uma empresa forte e bem sucedida, tributo a um homem impar.

terça-feira, junho 19, 2007

74- PERIQUITO

Uma das muitas viagens que fiz nas férias com meus pais foi para Paraty. Fomos de “fusca”, em 5 – pai, mãe, irmã, primo e eu – pela estrada que vai da Via Dutra ao litoral. Parte desta estrada ainda guardava vestígios da época imperial, pois foi primeiro construída por D. Pedro I, monarca brasileiro na primeira metade do século XIX: estreita, tortuosa e linda!
Na volta, depois de ensolarados e espetaculares dias à beira-mar, paramos na serra para descansar e encontramos um morador da região, que trazia um par de periquitos jovens para vender. Depois de muita negociação, compramos ambos.
Nossa casa, em pleno centro de São Paulo, tinha um bom quintal com um abacateiro que tornou-se o poleiro preferido das aves. Nesta árvore, os periquitos ofereciam prova de serem animais gregários: toda vez que bandos que periquitos sobrevoavam a casa - algo bastante comum naquela época (não sei se ainda existem) – nossos bichinhos ficavam excitadíssimos, gritando sem parar enquanto subiam o abacateiro até o galho mais alto. E lá ficavam, chamando o bando até que este sumia nos céus.
O triste aconteceu quando fomos viajar por alguns dias. Deixamos os dois periquitos num dos cômodos da casa, com comida e água. Ao voltarmos, eles estavam mortos. Por alguma razão que me escapa à lembrança, uma bicicleta estava no mesmo cômodo da casa e eles enroscaram as cordinhas que tínhamos amarrado em seus pés para que não voassem pela casa. Ficaram presos à bicicleta, sem comida e sem água... e morreram à míngua!!!
Se ao menos tivesse tirado a porcaria da bike de lá! A culpa me corroeu por um bom tempo. Sei lá, talvez ainda me corroa... toda vez que um periquito voa grasnando sobre mim!

quinta-feira, junho 14, 2007

73- DE FRENTE PRO CRIME

Algumas cenas marcam a memória de tal forma que quando a rememoramos, parece que um filme se passa na mente com toda a cena refeita em seus mínimos detalhes.
Tinha meus dezoito anos e voltava pra casa tarde da noite, de ônibus, de algum compromisso no centro da cidade. O ônibus, bem vazio, seguia pela Av. Ipiranga, entre a Praça da República e a Av. da Consolação, e eu olhava distraidamente para o outro lado da avenida. Na calçada, um casal se olhava próximo a uma árvore; menos de dois metros os separavam.
Por falta de assunto mais interessante, fixei meu olhar no casal. Nesse instante o rapaz levanta o braço esticado na horizontal; a mulher faz menção de se mover, mas cai de costas ao mesmo tempo que vejo um brilho esfumaçado na mão estendida do rapaz; uma fração de segundo se passa e escuto o estampido sêco do tiro. Enquanto me esforço para olhar melhor, o rapaz avança, observa o corpo da mulher no chão, leva a mão à cabeça e seu corpo sofre um tranco, um pequeno pulo mais parecido com um forte tremor e eu ouço um segundo estampido enquanto ele cai na calçada...
Levantei-me num salto, assustado e incrédulo e gritei para o cobrador, o motorista e talvez duas ou três pessoas que estavam no ônibus: “Ali!! O cara atirou nela e suicidou-se!!!” As pessoas se alvoroçaram, mas o ônibus já havia deixado prá trás a cena do crime, e só consegui repetir pro pessoal, enquanto tudo continuava no mesmo ritmo, a cena passando na cabeça em câmara lenta: “Que loucura! Ele atirou nela e suicidou-se!”

terça-feira, junho 05, 2007

72- A INVASÃO DOS PANTERAS NEGRAS

Estávamos todos muito excitados e agitados. Mais de mil jovens estudantes, provenientes de mais de 50 países, reunidos na Hofstra University, Nova York, para três dias de orientação antes de cada um ir para uma cidade e uma família americana por um ano.
Além das reuniões de informação e orientação sobre vários assuntos, havia também muita festa, jogos e tempo para conhecer pessoas.
Mas, numa das reuniões, em um pequeno auditório da universidade, um pequeno e rude grupo de negros com cabelo “afro” interrompeu a palestra e começaram a esbravejar palavras de ordem sobre a opressão branca, o “black power” que se revoltava contra essa dominação, e como éramos parte dessa farsa promovida pelo imperialista governo americano.
O pequeno grupo de estudantes na sala ficou surpreso e intimidado por esta invasão, sem compreender direito o que acontecia. Tínhamos a impressão de que poderia haver alguma violência contra nós, estrangeiros mal-vindos. Mas nada aconteceu e em poucos minutos eles saíram da sala e fomos informados pelos palestrantes que eles eram universitários membros do famoso e temido “Panteras Negras”. Pena que não tínhamos nossas máquinas fotográficas conosco para registrar o acontecimento político do ano de intercâmbio, que mal começava. Também, se tivéssemos, quem se atreveria a apontar a câmera para um deles?!

Retomando...

Com muita alegria, e novas histórias, retomo a publicação semanal desta colcha de retalhos de lembranças, antigas ou recentes, de fatos que tem marcado minha vida.
Um dos muitos lugares que pude visitar durante este mes de férias foi os Estados Unidos, e é de lá que vem a história a seguir, nos turbulentos "anos 70".
Espero que gostem.