terça-feira, outubro 31, 2006

49- INVASÃO !!!

Logo que me foi possível, adquiri um telefone celular. Era um tijolão que mal permitia a conversa, caro e com uma pesada bateria que não durava nada, obrigando o uso de bateria de reserva. Mas achei que devia me incluir na nova tecnologia, como tinha feito com o micro-computador. Assim, fui me acostumando a ter o aparelho ao ponto de, atualmente possuir, em nome da minha empresa, um para cada membro da família.

Um dia, recebi uma chamada. Ao atender, a pessoa se identificou como “André, do depto de atendimento ao cliente da Vivo” e começou com uma conversa mole que me levou a desconfiar que ele não fosse quem dizia ser. Acusei-o de ser um falso funcionário, ameacei denunciá-lo e desliguei. Ao olhar a chamada recebida para identificar o número, vi que não era possível, pois no meu visor aparecia “número restrito”. Liguei para a Vivo, comunicando o fato e fui informado que a empresa não usa “número restrito” para falar com os clientes. Ah, então, o “André” era falso mesmo!

Algum tempo depois o mesmo “André” me liga novamente. Alerta por ver que a chamada era de “número restrito”, acusei o fulano de criminoso, disse que ia denunciá-lo para a Vivo, xinguei-o um monte e desliguei. Falei em seguida com a Vivo, denunciando a tentativa criminosa.

Passaram-se alguns minutos e recebi, no telefone fixo, uma chamada de uma paciente da Elaine (ela é médica), dizendo que não conseguia ligar pra ela. Tentei também, e não consegui. Liguei logo para a Vivo e fui avisado que alguém da minha empresa havia ligado para eles, um tal de “André” e havia solicitado o bloqueio de todas as linhas, em razão de roubo!!! Só consegui desbloquear as linhas depois de duas horas conversando com os atendentes da Vivo. O safado havia se vingado do fato de não ter me enganado, fazendo-se passar por funcionário da empresa, fornecendo todos os dados solicitados pela Vivo, e fazendo o bloqueio das linhas.

Poucas vezes me senti tão injuriado. E, ao mesmo tempo tão impotente, pois simplesmente não podia fazer nada, a não ser lamentar. Pra desabafo, escrevi um longo e-mail explicando o acontecido e enviei para os amigos e para os jornais. Quase desisti de ter celular... “Haja !!!”

segunda-feira, outubro 23, 2006

48- ATAQUE (QUASE) FATAL!!!

Aproveitando o post do Paulo Brabo (www.baciadasalmas.com) "Invasores de Pórticos", passo-lhes minha experiência com as "assassinas". Divirtam-se.

É muito gostoso morar numa chácara. É tranqüilo, ecológico, saudável. Mas também tem seus perigos.

Aconteceu com meu cão “boxer”, o Aquiles. Cachorro carinhoso, afável, brincalhão, grande companheiro. Entretanto, por ser muito fuçador e escapar do quintal da casa, ele ficava no canil a maior parte do tempo.

Um dia, estava em casa só, quando ouvi ganidos de dor e raiva vindo do canil. Resolvi ver o que estava acontecendo, e ao sair fui surpreendido pelo barulho e movimento de vôo de milhares de abelhas. Refugiei-me de volta em casa, e percebi, pela janela, que o cão tava sendo atacado por algumas abelhas, contra as quais lutava ferozmente. Enrolei-me num cobertor e saí novamente. Ele já estava desesperado e ficou mais ainda quando cheguei perto. Soltei-o, pensando em cobri-lo com o cobertor, mas ele disparou para o gramado no lado oposto do canil, onde, felizmente, não havia abelhas. Esfregava-se na grama, gemendo. Levei-o pra dentro da casa, examinei-o e percebi que o número de picadas era enorme. Precisava levá-lo ao veterinário ou o Aquiles poderia morrer.

O problema era que as abelhas não pareciam querer ir embora, e meu carro estava próximo do canil, bem onde elas se concentravam. Enrolei o cão num cobertor, peguei-o no colo, enrolei-me em outro, tomei coragem e fui para o carro. Consegui entrar rapidamente, deixando-o no chão do lado do passageiro; matei uma ou duas abelhas que entraram com a gente. Fui “à toda” pro veterinário, com o Aquiles meio largado e babando muito. Ele recebeu medicação e se recuperou logo.

Ao voltarmos pra chácara, não havia mais abelhas, a não ser as mortas no chão do canil e da garagem.

Foi um susto muito grande, eu pensei que fosse perder meu cachorro, jovem ainda, com apenas um ano de idade. Agora, com 10 anos, ele ainda mora no canil. Nunca mais foi “visitado” por abelhas. Talvez nem se lembre mais delas. Eu, não.

terça-feira, outubro 17, 2006

47- ESSA É PRA HOME!!!

Estive em Recife e lembrei-me de um episódio que se passou com um colega pernambucano:


Trabalhando como geólogo em Guapiara, interior de SP, viajava toda semana de São Paulo para lá. Comigo ia esse colega.

Sempre que parávamos para almoçar, fosse onde fosse, ele perguntava por “uma pimentinha”. Quando traziam o tradicional vidrinho com molho avermelhado ele insistia: “não tem pra macho, não?”. Pra ele pimenta tinha que ser bem forte.

Durante a semana, almoçávamos na casa do nosso encarregado, que ficava próxima à jazida. Comidinha caseira, simples e deliciosa. O agrião era recolhido na hora, em um riacho que passava atrás da casa!

Pois bem, meu colega sempre pedindo uma pimentinha “prá macho” e nosso capataz tentando encontrar alguma que o satisfizesse, sem muito sucesso. Um dia, já sentados para comer, ele chega todo ressabiado e diz: “O senhor veja se esta lhe agrada”. Numa pequena garrafa, pequenas pimentas verdes estavam imersas em líquido transparente amarelado. Meu amigo abriu-o e percebeu que a pimenta era curtida na cachaça. Cuidadosamente, colocou duas gotas do líquido à beira do prato e misturou uma boa porção do arroz com feijão e farinha. Deu uma garfada, mastigou lentamente, com todos o observando e depois de alguns segundos disse em voz baixa e rouca: “esta é prá macho!”. Nunca mais reclamou. E diariamente, no almoço, pingava uma gotinha da pimenta à beira do prato. .

quarta-feira, outubro 11, 2006

46- MEMÓRIA SABOROSA

O programa era simples: cada um levaria uma pizza para assar na hora. A intenção era singela: fazer uma reunião divertida e saborosa a baixo custo. A razão era louvável: reunir um grupo de colegas para um bate-papo descontraído fora do ambiente de trabalho.

Entre fatias de pizza de atum, presunto, calabresa, muçarela, etc, aparece um casal, de origem finlandesa, com uma pizza que além de tomate e queijo, tinha finas fatias de um cogumelo raro e muito caro, trazido da Finlândia.

Como o grupo era grande, cada pizza era cortada em fatias pequenas. Sendo um grupo grande, havia grande quantidade de pizza para todos. Exceto essa única pizza de cogumelo finlandês. Cada um teve direito a esse único pequeno pedaço, só para provar.

Dei uma pequena mordida na minha fatia, por temor do sabor desconhecido. À medida que mastigava, percebi que saboreava algo nunca experimentado antes – divino. Comecei a mastigar mais devagar, tentando não engolir tudo rapidamente como sempre fiz. Minha preocupação passou a ser o tamanho minúsculo da fatia que eu recebera. Será que todos iam perceber que estavam diante de um monumento ao sabor? Sobraria algum pedaço que eu pudesse surrupiar da mesa e assim prolongar aquele momento?

Pensei: Meu Deus! Algum dia vou me esquecer desse sabor! Preciso gravá-lo na memória! Ah, se fosse visível, fotografava-o! Hum, que delícia! Quanto tempo esse sabor ficará na minha boca depois que a pizza acabar? É bom demais pra terminar tão cedo! Também, que gringo muquirana, fazer só uma pizza deste cogumelo! Será que algum dia terei oportunidade de comê-lo novamente? Huuumm! Mas é bom demais! E tão pouco!!!

Hoje, anos depois, tenho vívido na memória aquele momento mágico, de puro prazer divino de saborear algo tão delicioso. Mas não me perguntem qual era o sabor. Esqueci...

quarta-feira, outubro 04, 2006

45- POLÍTICA 5

Na Geo-USP, no início da década de 70, o clima era de contida revolta pela morte do colega “Minhoca” (o Alexandre Vanuchi). O centro acadêmico (CA), vigiado de perto, fazia o que podia pra manter o ativismo político aceso, sem levantar repressões, tanto das autoridades acadêmicas quanto militares. O marxismo era o pensamento dominante na Geo, e uma forma de ação era a divulgação de literatura de esquerda, principalmente em espanhol - Marx, Lenin, Trotsky, Castro, Bakunin, Furtado, Freire, etc. Essa divulgação se dava em “feiras culturais”, em meio a muito samba e cachaça.

Decidido a não me omitir, pedi para também expor alguns livros que falavam de política, das injustiças sociais, do mundo contemporâneo a partir de uma perspectiva diferente, pois não era socialista marxista, nem adesista burguesa. Era “cristã combativa” (inventei o termo agora!) – Lewis, Padilla, Escobar, Schaeffer, Bonhoeffer, Ellul, Stott, Yoder, Guiness, Gutierrez.

A primeira reação da diretoria do centro acadêmico foi indeferir meu pedido, com a justificativa que só os livros do CA seriam expostos e vendidos, para angariar fundos para as atividades do mesmo. Solicitei uma reunião com a diretoria e disse que eu fazia parte da escola, que não era o único a partilhar das idéias dos livros, que queria colaborar expondo os livros , que de bom grado reverteria o valor das vendas em benefício do centro acadêmico e que meus livros almejavam o mesmo fim, a partir de outro ponto de vista. Não havia conflito.

A reunião ocorreu num classe-laboratório da escola, com longas mesas. Um dos nossos mais respeitados colegas, que, inclusive, passara meses preso por ocasião do episódio com o “Minhoca” estava na sala, apesar de não fazer parte da diretoria (o Rui é hoje membro do Greenpeace no Brasil). Deitado sobre uma das longas mesas, parecia estar simplesmente descansando após o almoço, antes das aulas da tarde. Depois de explicar minhas razões, o presidente do CA começou a dizer um “Mas... Antes que completasse a frase o Rui o interrompeu, deitado ainda, só com a cabeça erguida, e disse: “Você tá certo, Rubens, teus livros podem ser vendidos junto com os do CA. Você tem todo o direito de participar da forma que puder. E eu agradeço pela tua colaboração.”

Não me lembro do resultado da feira. Certamente meus livros não foram best sellers. Mas marquei posição; percebi e mostrei que era possível aliar-me no combate à ditadura sem ser marxista e sem abrir mão das minhas convicções. Inesquecível...