segunda-feira, maio 29, 2006

23- QUARTO "TEEN'

Meu quarto, aos 14 anos, era um mundo a ser criado. Morando numa casa antiga, em plena avenida Rebouças, SP, ter meu próprio quarto era apenas o começo. Precisava torná-lo “meu espaço”. Com recursos financeiros escassos, mas muita criatividade, pus mãos à obra.
De um calendário do ano anterior retirei 12 fotos incríveis das mais diversas paisagens: montanhas nevadas, florestas, rios e mares que foram colocados na parede, entre o teto e o cordão de madeira, antigo enfeite usado para dar a impressão que o teto era mais baixo.
De um cinema consegui o cartaz de publicidade do filme “Excalibur”, com um cavaleiro de armadura, lança em punho, vindo a galope em sua direção. Foi colocado na porta de entrada.
Uma parede recebeu uma foto de uma “naja”, pronta para o bote, saída de um cartaz de propaganda da revista “National Geographic” que consegui com uma banca de jornais.
Ao lado, a foto, tamanho natural, de uma famosa modelo da época. Recortei sua silhueta e... uau! Ficou dez!
Para concluir, pendurei os chifres de um pequeno veado – troféu de caça que ganhei de um fazendeiro de Jambeiro, SP - que além de uma enorme fazenda, tinha uma matilha de cães perdigueiros também imensa, com a qual costumava caçar.
A janela recebeu algumas dezenas de adesivos e decalques de todo tipo de produto, formando um mosaico multicolorido
O toque final foi dado por minha tia Jô, que me deu um gravador de rolo para que eu pudesse gravar e ouvir minhas próprias músicas. Para ouvir, deitava-me no chão, sobre um tapete de couro de boi e ligava o som a todo volume.
Imagine!!!

segunda-feira, maio 22, 2006

22- PESO PENA

Viajava pela Br 116, de volta para casa, depois de merecidas férias. Acompanhado pela família, parei num posto a beira da estrada, para um pequeno lanche e descanso. O posto, muito bem equipado, possuía um restaurante enorme, com uma grande frente envidraçada. Dentro, pratos diversos, lanches, bebidas e guloseimas eram oferecidos junto com artesanatos, jornais e revistas diversos.
O grande movimento obrigava o estabelecimento a manter as portas - de vidro - abertas para favorecer o fluxo de pessoas. Por estas portas, passou um beija-flor. Atraído, com certeza, pelos odores que emanavam dos alimentos – especialmente os doces – ele volteou pelo salão e decidiu, talvez pelo excesso de pessoas, sair. Mas, desconhecendo a parede invisível que cercava o local, chocou-se violentamente contra o vidro, a ponto de cambalear. Recuperou-se e tomou novamente altura para repetir o gesto tresloucado. Novo choque violento contra o vidro. Depois de algumas tentativas frustradas, o passarinho perdeu as forças e foi lentamente pousando no chão do restaurante, enquanto se debatia em vão para atravessar o vidro. No chão, ficou quieto como morto.
Não resisti ao impulso de socorrê-lo, e cheguei perto, de mansinho. Apanhei-o, e percebi imediatamente que segurava um ser vivo – o coraçãozinho disparado – leve como pluma. Foi a coisa mais leve e frágil e linda que já segurei. A emoção foi de dó, ternura e entusiasmo pela vida que eu tentava salvar.
Ele ficou muito quieto, levei-o pra fora e abri a mão. Por uns instantes, ele não se mexeu. Então, levantou a cabeça, ajeitou-se e rapidamente voou para o alto em direção às árvores do pátio de estacionamento. Duas ou três crianças que me acompanhavam excitadas desde que havia segurado o bichinho bateram palmas. Voltei pro restaurante, reuni a família e retomamos a viagem com uma história incrível pra lembrar.

quarta-feira, maio 17, 2006

21- VIAGEM LONGA

Minha tia era uma solteirona simpática e ousada. Resolveu visitar uns parentes em João Pessoa, Paraíba, e levou dois sobrinhos adolescentes consigo. Eu era um deles. A viagem, em plena década de 60, foi feita de ônibus, em 52 horas de viagem ininterrupta! Graças a Deus, sem maiores percalços. Na volta, em certo trecho do sertão baiano, não havia muitos recursos à beira da estrada e, com isso, viajamos por horas, sem parar. Após algum tempo, a hora do almoço foi passando, e a fome chegou. Num certo momento, um nordestino bem típico, gritou do fundo do ônibus: “Ô seo motorista! Num vamo pará pra cumê? As bicha já tão preguntano pras guela: num desce nada daí não?” Depois de um segundo de surpresa, o ônibus veio abaixo em gargalhadas.

sexta-feira, maio 12, 2006

20- COMIDA FARTA

Almoços em família sempre foram comuns, tanto para mim como para Elaine. A dela, composta de 4 irmãs, a avó e a tia-avó, e os “agregados” facilmente enchiam a mesa de jantar da sua casa. Na minha família, 4 tios, 8 primos e “etc” também formavam um bom grupo. As semelhanças incluíam a risada fácil nas conversas, muitas fofocas e uma longa refeição com enorme quantidade de comida. A diferença mais marcante também era a mais sutil. Na família da Elaine, a fartura incluía varias saladas, carnes e acompanhamentos, com frutas e uma bela sobremesa. Já em minha família, o cardápio também incluía vários tipos de pratos salgados, mas sobressaia o fato da mesa de sobremesas ser quase tão variada quanto a de comida salgada, com 4 a 5 sobremesas, feitas em casa, tentando atrair a gula dos familiares. Arroz-doce, pudim de leite, pavê, doce de abóbora e manjar branco eram consumidos avidamente por todos. Porém, a “ambrosia”, receita centenária, carinhosamente mantida na família por gerações - tão doce que o marido de minha prima a definia como “de amarrar a testa” - era disputada a tapas. Sorte minha, que preferia arroz-doce e, portanto, não precisava entrar na disputa...

quarta-feira, maio 10, 2006

SALADA MISTA

Taí. Resolvi escrever sobre o hoje, o agora, o já. Como este não é o lugar apropriado para isto, tô bancando o besta e me metendo a fazer outro blog, de "atualidades", chamado Salada Mista, para a qual todos são convidados a saborear e colocar seus próprios ingredientes.
Passe lá... http://rubensosorio2.blogspot.com
Abraços, Rubinho

19- ACHEI A ELAINE !!!

A primeira vez que a vi... lembro-me bem. Fui com amigos da ABU a uma igreja. Iríamos apresentar o trabalho que fazíamos nas faculdades, em 1975. Antes do culto começar, fomos para uma sala nos fundos, preparar material de divulgação para distribuir aos presentes. Lá estava ela: cabelos cacheados, olhos vivos e meigos, sorriso fácil, timidez atraente. Fomos apresentados por um amigo meu, seu clega de faculdade. Para não dar na vista que estava muito interessado nela, puxei conversa com sua irmã, que, muito simpática, tornava fácil o papo. Incluía, sempre que podia, a Elaine na conversa, e tive uma noite muito agradável.
Criei coragem e fui vê-la poucos dias depois, na faculdade. Aproveitei e convidei-a para ir ao Playcenter com alguns amigos, no fim-de-semana. Foi divertido, e passei a manter contato com ela sempre que podia. Viajei, nas férias de julho, para Guarapari, enquanto ela foi para Santos com a família. Caminhando pela praia e sentindo saudade daquela pessoa que já havia se tornado tão especial pra mim, recolhi algumas conchinhas e as trouxe de volta comigo. Como ela não havia retornado de Santos ainda, viajei para encontrá-la, cheio de ansiedade e prazer. O encontro foi gostoso e combinamos de jantar naquela noite com minha tia, que morava na outra ponta da praia. Fizemos o caminho de volta a pé, mais de 5 quilômetros, pelo calçadão da praia, lentamente, mãos dadas, conversando sobre tudo... sobre nada... (já nem me lembro mais). Ao fim do caminho, namorávamos. E dois anos e meio depois, casávamos. Já faz tempo, muito tempo, mas a imagem da primeira vez que a vi nunca me saiu da mente... e do coração!

quinta-feira, maio 04, 2006

18- "VOANDO" COM OS BEATLES

Gostava, e ainda gosto, e muito, dos Beatles. Nos anos 60, meus pais diziam que era só moda. Eles iriam desaparecer porque não faziam música “de verdade”, como Bethoven, Bach ou Mozart. Aos 15 anos, pensassem o que quisessem: os Beatles eram o máximo!
Então saiu “Sgt Peppers”. Um disco que eternizou o já famoso quarteto no mundo da música pop. Comentários mil, desde “genial” a “faz a apologia das drogas”, por ter feito uma música cujas iniciais do nome montavam a sigla LSD. Eu tinha que arrumar o “LP” pra ouvir, já que não tinha dinheiro para comprá-lo.
Finalmente, consegui trazer o disco pra casa. Acomodei-me no chão do quarto, como sempre fazia quando ia ouvir música, coloquei a cabeça entre as caixas acústicas da vitrola, e pus o disco pra rodar.
Ouvi todo o disco com interesse e prazer. Algumas faixas realmente me fascinaram, especialmente a que contava a historia da garota que fugia de casa, “She’s Leaving Home”.
Foi quando o disco chegou na última faixa, “A Day in Life”. Música legal, mas nada de excepcional, já que o disco todo era fabuloso. De olhos fechados, acompanhava a banda... e percebi que tinha “viajado”! O que tinha acontecido? Dormi? Não, não me sentia como se tivesse cochilado, mas sim, como se voltasse à realidade depois de ficar desligado dela por alguns instantes. Nossa! Então deve ser assim que as drogas fazem! E eu pude experimentar sem tomar nada... Só ouvindo Beatles... Um barato!