quarta-feira, agosto 29, 2007

83- O TEMPO NÃO PÁRA...

Será?
A primeira vez que visitei Paraty - RJ, ainda não existia a rodovia Rio-Santos (Br 101). Descemos a serra pela estrada construída por D. Pedro I para poder visitar uma amante... estradinha sinuosa, linda e perigosa, pavimentada com pedras.
Quando lá retornamos, havia se passado mais de 25 anos. Muita coisa mudou, é certo, mas foi emocionante andar pela área preservada da cidade, onde piso, muros, casas, igrejas, postes, tudo, mas tudo, tem os ares de século XIX, exatamente como na primeira vez que lá estive.
Não foi possível acampar, como na primeira vez, nas areias da principal praia da cidade. Ela agora é bastante movimentada, perdeu o ar de praia de pescadores que tinha, até com um pequeno estaleiro de reparos de barcos, e onde os pescadores chegavam com peixes e camarões fresquinhos até a porta da nossa barraca para oferecer. E preparávamos no fogo a lenha ali mesmo, na areia. À nossa volta, apenas sossego. Nada a temer, nada a interromper a calma do local, com o constante vai e vem das ondas compondo o fundo musical eterno.
Paraty foi uma das cidades que visitei com meus pais nas férias de verão na minha adolescência. Ficamos lá alguns dias, eu, minha irmã, meus pais e um primo, descobrindo o verdadeiro tesouro histórico e geográfico que é. Um dos lugares mais lindos que já vi, sem dúvida!
O tempo não pára, mas, em alguns lugares especiais, vale o esforço para preservar intacto, como se o tempo houvesse parado, aquilo que, caso se perca, será um prejuizo sem conta.

terça-feira, agosto 21, 2007

82- O SENHOR DOS ANÉIS

No final dos anos 70, fui apresentado à extraordinária literatura do não menos extraordinário C. S. Lewis. Li alguns de seu livros de não ficção, mas gostei mesmo dos de ficção: “Longe do planeta silencioso” e a coleção “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa” me encantaram. Através de Lewis fiquei sabendo de um outro autor ficcional inglês, Tolkien, que fazia enorme sucesso entre estudantes universitários na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Procurei por seus livros em português e finalmente achei, na Livraria Cultura, no Conjunto Nacional da Av. Paulista, em S. Paulo. Uma série de seis livros, chamada “O senhor dos anéis”. Durante algum tempo namorei-os na livraria. Sempre que passava por ali, apanhava um volume e gastava alguns minutos lendo. Criei coragem e comprei toda a coleção e iniciei a aventura que é ler Tolkien.
No começo, a leitura não decolava: o texto - cheio de parágrafos descritivos, com referências poéticas e históricas de um mundo que eu não conhecia – era muito mal traduzido, usava um vocabulário confuso e, várias vezes, dava pra desanimar. Mas persisti na leitura, mais por teimosia do que por deleite até chegar num ponto, não sei qual, e nem quando, que percebi não poder mais parar de ler! Andava com o livro debaixo do braço pra qualquer lugar que fosse e abria-o nem que fosse para ler um minuto. Ansiava por qualquer oportunidade de ficar só e poder ler sossegado. Que maravilha! Como alguém podia ser tão espantosamente criativo, coerente, profundo e hábil para criar um mundo e uma história tão excitante, comovente e relevante para nossos dias?
Devorei rapidamente os seis volumes. Elaine, minha esposa, também se rendeu aos “hobbits” e logo meus livros foram parar nas mãos de amigos, curiosos para conhecer o tesouro que eu tinha achado. Eu também os reli e acrescentei “O hobbit” à coleção.
Soube, depois, do enorme alcance da sua obra, como Tolkien era importante na literatura inglesa e universal e como suas profundas convicções cristãs permeavam seus trabalhos.
Quando uma nova tradução, essa sim, excelente, foi lançada, reli com renovado prazer toda a obra e assisti mais de uma vez a trilogia espetacular lançada no cinema. Ainda hoje, ao me lembrar da aventura de Frodo pela Terra Média, espanta-me a grandiosidade da obra de Tolkien.

terça-feira, agosto 14, 2007

81- UM RABINO EXCELENTE

Minha mãe é bibliotecária. A bem da verdade, diga-se, excelente bibliotecária. Nesta época trabalhava para a editora Nobel, em São Paulo.
Um dia um dos proprietários da editora, um judeu dinâmico e culto, porém não religioso, procurou-a para pedir a indicação de alguém que pudesse ler um livro, escrito por um famoso rabino americano, Harold Kushner, para opinar sobre a conveniência de ser publicado. Como sempre gostei de ler, e naquele tempo lia muito sobre teologia, ela indicou-me e trouxe pra mim um exemplar de “Quando Coisas Ruins Acontecem a Pessoas Boas”.
Nunca havia ouvido ou lido nada do ou sobre o autor. Confesso que não gostei do título. A priori, não há pessoas “boas”. Mas encarei a tarefa e li atentamente o livro. Acabada a leitura, fiz um relatório aconselhando a publicação do texto, o que realmente foi feito.
O rabino conquista o leitor por todos os lados – racional, teológica e emocionalmente – seu texto vai aos poucos minando as resistências, por sua sinceridade, argumentação clara e uma espiritualidade profunda, vivencial, além de íntimo conhecimento do texto sagrado judaico.
Ganhei, como “pagamento” pelo “serviço”, meia dezena de exemplares, que fui aos poucos dando de presente para amigos que passavam por situações de perda. Comprei outros e mais outros. Ainda não encontrei texto mais adequado para ajudar aqueles a quem só posso oferecer um abraço, um ombro amigo, a solidariedade.
O livro foi bem sucedido e, felizmente, um segundo texto, igualmente bom, foi lançado: “Quando tudo não é o bastante”.
Fico feliz e até orgulhoso por ter de alguma forma ajudado a tornar acessível ao brasileiro os textos desse excelente autor, Harold Kushner.

terça-feira, agosto 07, 2007

80- BATIZANDO SETE QUEDAS

Foi uma viagem muito legal. Nós três - eu e dois primos – numa aventura entre São Paulo e o Mato Grosso (do Sul), de carro. Estávamos em férias. Eu, a seis meses do casamento, queria uma última aventura antes de estabelecer família e virar “homem sério”. A chance era de ouro. Um parente – não muito próximo – ofereceu hospedagem em sua fazenda, próxima à fronteira com o Paraguai. Nós aceitamos.
A viagem foi tranqüila e empolgante. Chegamos a nos perder nas estradas empoeiradas do Paraná. Quase 50 km de desvio. Pegamos um chuvão que deixou a estrada - de terra vermelha, a famosa “terra roxa” do Paraná – um lamaçal perigoso. Vários veículos – até tratores - aguardavam no acostamento enquanto alguns corajosos tentavam subir uma ladeira cheia de barro. Meu primo acelerou forte o corcelzinho “véio de guerra” dele e subimos deslizando de um lado pro outro da estrada até o topo. Uau! Até os camioneiros olharam com espanto e admiração.
Na fazenda, além da deliciosa rotina – acordar cedo, café-da-manhã, passear pelo curral, vendo os peões mexerem com o gado, bate-papo inconseqüente na varanda, ao por-do-sol, e joguinho de buraco depois da janta – pudemos visitar uma das cachoeiras mais bonitas do mundo: As Cataratas de Sete Quedas. Pouco tempo depois elas seriam definitivamente afogadas por toneladas de água da barragem de Itaipu.
À beira de um dos canyions da cachoeira, observei as águas rolando bravias no fundo e me deu vontade de... Como não havia ninguém por perto, pus-me a aliviar a bexiga ali mesmo, fazendo um longo arco líqüido que caia até o rio, lá embaixo. Quando acabei, olhei pra trás e meu primo estava a poucos metros, com uma cara marota. Só descobri a razão quando voltamos pra São Paulo e ele apresentou seu show de slides de fotos da viagem. Num deles, lá estava eu, de costas, e um longo e brilhante jato líqüido caia em direção à cachoeira! Ele havia me fotografado em flagrante!!! Rimos muito e fui obrigado a concordar que a foto tinha ficado demais!
...
(PS- infelizmente por ser em "slide", não tenho como postar aqui. Sorry)

quarta-feira, agosto 01, 2007

79- APEGO À BRASILIDADE

Ao chegar nos EUA como estudante de intercâmbio, em 1970, tinha a companhia de 150 brasileiros. Fomos alojados no campus da Hofstra University, em N. York, com mais de 500 intercambistas de outros 30 países.
Depois de três dias de reuniões de orientação e muita confraternização, chegou a hora de cada um ir para uma cidade, uma família, pelos próximos doze meses. Percebemos, então, que aquele convívio com brasileiros - barulhento, alegre e bagunçado – acabara, e estávamos destinados à solidão da “american way o life” por um longo ano. Este fato mexeu com as emoções de todos nós.
Eu havia feito amizade com alguns brasileiros, mas nenhum deles iria ficar próximo da cidade onde eu iria morar, Salisbury, Carolina do Norte. Uma das meninas do grupo estava com mais medo do que eu, porque o inglês “era grego” pra ela e sentia-se entrando num mundo desconhecido e apavorante. Fiz-lhe companhia neste último dia, tomamos café-da-manhã juntos e levamos nossas malas para o ponto de saída, à espera do transporte que nos levaria aos nossos destinos. Ficamos no gramado próximo, conversando sobre “coisas do Brasil”, nossas famílias, amigos e tudo aquilo que nos era tão querido e que estava tão distante – no tempo e no espaço.
Ficamos assim, conversando, chorando, consolando e na hora de partir, não paramos de nos abraçar, beijar, desejar tudo de bom, prometer manter contato e nos reencontrarmos em um ano.
Finalmente nos largamos, e cada um foi para um lado. Nunca mais a vi...