quinta-feira, junho 14, 2007

73- DE FRENTE PRO CRIME

Algumas cenas marcam a memória de tal forma que quando a rememoramos, parece que um filme se passa na mente com toda a cena refeita em seus mínimos detalhes.
Tinha meus dezoito anos e voltava pra casa tarde da noite, de ônibus, de algum compromisso no centro da cidade. O ônibus, bem vazio, seguia pela Av. Ipiranga, entre a Praça da República e a Av. da Consolação, e eu olhava distraidamente para o outro lado da avenida. Na calçada, um casal se olhava próximo a uma árvore; menos de dois metros os separavam.
Por falta de assunto mais interessante, fixei meu olhar no casal. Nesse instante o rapaz levanta o braço esticado na horizontal; a mulher faz menção de se mover, mas cai de costas ao mesmo tempo que vejo um brilho esfumaçado na mão estendida do rapaz; uma fração de segundo se passa e escuto o estampido sêco do tiro. Enquanto me esforço para olhar melhor, o rapaz avança, observa o corpo da mulher no chão, leva a mão à cabeça e seu corpo sofre um tranco, um pequeno pulo mais parecido com um forte tremor e eu ouço um segundo estampido enquanto ele cai na calçada...
Levantei-me num salto, assustado e incrédulo e gritei para o cobrador, o motorista e talvez duas ou três pessoas que estavam no ônibus: “Ali!! O cara atirou nela e suicidou-se!!!” As pessoas se alvoroçaram, mas o ônibus já havia deixado prá trás a cena do crime, e só consegui repetir pro pessoal, enquanto tudo continuava no mesmo ritmo, a cena passando na cabeça em câmara lenta: “Que loucura! Ele atirou nela e suicidou-se!”

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