sexta-feira, março 24, 2006

Prólogo

Diz o ditado que o homem, para se realizar, deve criar um filho, plantar um árvore e escrever um livro. Por muitos anos, acalentei a idéia de que poderia, um dia, ter algo para dizer, e quando este momento chegasse, escreveria um livro que faria diferença na vida das pessoas, que mudaria para melhor, mesmo que um pouco, o mundo. Mas, minhas certezas na vida foram se esvaindo à medida que o tempo passava, e as dúvidas aumentaram com a idade. Consolaram-me as palavras dos Engenheiros do Havaí na bela “Infinita Highway”:
“...eu posso estar completamente enganado,
eu posso estar correndo pro lado errado,
mas a dúvida é o preço da pureza,
e é inútil ter certeza...”
Tenho a esperança de estar na direção certa, que um dias os motivos serão desvelados e tudo passará a ter significado. No entanto, neste ponto, não possuo lições de vida pra ensinar, nem a habilidade de um novelista. Passei a invejar os autores que escreviam bem, com o conteúdo de quem sabe o que faz. E quase desisti do velho provérbio.
Somente agora, depois dos 50 anos de idade, percebi que a vida fala por si – não preciso ter uma mensagem, ou um roteiro de novela para escrever algo. Devo, especialmente, aos escritos de Rubem Alves (“Um livro são pedaços de mim espalhados ao vento como sementes, para irem nascer onde o vento as levar.” – Aprendiz de Mim), a coragem de ousar por no papel o que me atrevia, no máximo, a relatar aos amigos, em rodinhas para jogar conversa fora. Portanto, caro leitor, escrevo sobre o que vivi, ri ou chorei, e que, de algum modo, ficaram na memória. Não me move a pretensão do ensino, nem a ilusão da criatividade, nem o impulso artístico. Nas palavras de Sá e Guarabyra:
“um cavaleiro na estrada sem fim,
um contador de uma historia de mim,
vivo do que faz meu braço,
meu braço faz o que terra manda,
voa tristeza, voa tempo, voa vento... voa...”
(“Quem Saberia Perder”).
Não sei quantas pessoas irão ler estas reminiscências, nem o que vão pensar a respeito, mas se minhas lembranças e a maneira como eu as conto fizerem o leitor sentir um sorriso maroto surgir no canto da boca, ou uma lágrima transbordar nos olhos, serei agradecido a Deus por me impor este fardo.

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