terça-feira, julho 18, 2006

33- DOR DE DENTE

Viajei, com estudantes universitários da ABUB, para S. Felix do Araguaia, em Goiás, com o objetivo de dar apoio à pequena comunidade evangélica do lugar e também prestar alguma ajuda aos índios Carajás da Ilha do Bananal. Foi uma viagem inesquecível por muitos motivos: desde o maravilhoso grupo com que convivi, a visita ao centro lingüístico em Brasília, a viagem de “teco-teco”, o majestoso Rio Araguaia, os banhos de rio ao pôr-do-sol e as atividades que realizamos, até fatos pitorescos como o que relato.
Passamos uma semana com os índios, acompanhados de uma enfermeira da Funai. Esta, teve de sair por uns dias, e ficamos na aldeia, hospedados na casa para funcionários, convivendo e conhecendo um pouco da cultura carajá.
Uma tarde, recebemos a notícia que o chefe da tribo estava doente, com terrível dor de dente. Alguém da tribo veio saber se podíamos fazer alguma coisa pelo chefe. O consenso era de que nada podíamos fazer sem a autorização da funcionária da Funai. Mas eu achei que pelo menos minorar seu sofrimento até a volta da enfermeira era possível. E – ousadia! – ofereci um comprimido de aspirina.
No dia seguinte, fomos, apavorados, saber como o chefe havia passado a noite. Estávamos morrendo de medo que o remédio pudesse ter causado algum efeito colateral indesejado, visto que eles provavelmente não estavam acostumados com a farmácia do homem branco, e que estivesse bravo conosco. Ele poderia nos dar algum castigo inimaginável... Suspense...
O próprio chefe sai da cabana, sorri muito constrangido, e diz que dormiu muito bem, sem dor nenhuma, a melhor noite da semana. Em seguida, me estende um colar de contas e penas, feito por ele mesmo, para me agradecer e diz “obrigado” na sua língua, acrescentando uma palavra que seria o meu nome carajá.
Poucas vezes me senti tão aliviado e tão orgulhoso na vida. O meu nome carajá - infelizmente não lembro mais - e o colar ficaram comigo muitos anos - eventualmente este deteriorou-se e joguei fora.
Mas as lembranças ficam... E um pouquinho do orgulho também...

2 comentários:

Lou H. Mello disse...

Em meus parcos conhecimentos indigenas , o chefe estendeu-lhe a honra de ser chefe, também.
E durante todo esse tempo não sabia que estava falando com um Grande Chefe Carajá: Chefe Rubinho!

Lou H. Mello disse...

Ou ele lhe fez (nomeou) Pagé. Nesse caso, estaria falando com o grande lider espiritual Carajá: Pajé Rubinho!