segunda-feira, maio 22, 2006

22- PESO PENA

Viajava pela Br 116, de volta para casa, depois de merecidas férias. Acompanhado pela família, parei num posto a beira da estrada, para um pequeno lanche e descanso. O posto, muito bem equipado, possuía um restaurante enorme, com uma grande frente envidraçada. Dentro, pratos diversos, lanches, bebidas e guloseimas eram oferecidos junto com artesanatos, jornais e revistas diversos.
O grande movimento obrigava o estabelecimento a manter as portas - de vidro - abertas para favorecer o fluxo de pessoas. Por estas portas, passou um beija-flor. Atraído, com certeza, pelos odores que emanavam dos alimentos – especialmente os doces – ele volteou pelo salão e decidiu, talvez pelo excesso de pessoas, sair. Mas, desconhecendo a parede invisível que cercava o local, chocou-se violentamente contra o vidro, a ponto de cambalear. Recuperou-se e tomou novamente altura para repetir o gesto tresloucado. Novo choque violento contra o vidro. Depois de algumas tentativas frustradas, o passarinho perdeu as forças e foi lentamente pousando no chão do restaurante, enquanto se debatia em vão para atravessar o vidro. No chão, ficou quieto como morto.
Não resisti ao impulso de socorrê-lo, e cheguei perto, de mansinho. Apanhei-o, e percebi imediatamente que segurava um ser vivo – o coraçãozinho disparado – leve como pluma. Foi a coisa mais leve e frágil e linda que já segurei. A emoção foi de dó, ternura e entusiasmo pela vida que eu tentava salvar.
Ele ficou muito quieto, levei-o pra fora e abri a mão. Por uns instantes, ele não se mexeu. Então, levantou a cabeça, ajeitou-se e rapidamente voou para o alto em direção às árvores do pátio de estacionamento. Duas ou três crianças que me acompanhavam excitadas desde que havia segurado o bichinho bateram palmas. Voltei pro restaurante, reuni a família e retomamos a viagem com uma história incrível pra lembrar.

2 comentários:

Lou H. Mello disse...

Há muitos anos, imaginei que era assim que Deus nos segurava.

Paulo Brabo disse...

Já aconteceu aqui comigo no Monastério - é de fato como segurar um anjo. Em alguns casos é preciso reabastecer o bichinho com água açucarada. Eles batem asas com tal velocidade que seu consumo de energia é vertiginoso: uns poucos minutos sem açúcar podem esgotar um beija-flor por completo.

Olhai as aves do céu.