segunda-feira, abril 24, 2006

15- VENDO A MORTE DE FRENTE

“A near death experience”. É assim que os gringos se referem a uma situação na qual a gente vê a morte de perto.
Minha mulher e eu viajávamos no pequeno monomotor de um empresário amigo em direção a Gramado. No avião, além de nós três, ia o piloto e um professor de teologia, muito amigo do empresário. Saímos de Londrina com tempo bom, e voamos gostoso, batendo papo, sobre as terras paranaenses e catarinenses até atingirmos a serra gaúcha. O tempo mudou rapidamente, e fomos avisados pelos controladores de vôo que previam o fechamento em breve dos aeroportos da região, devido à nebulosidade.
Ao chegarmos em Gramado, já não se via nada acima ou abaixo de nós; eram só nuvens por todo o lado. O piloto disse que ia baixar bastante para fazer contato visual com o aeroporto, pois não poderia aterrisar por instrumentos. Fomos baixando por entre nuvens - exceto pelo piloto - sem noção de onde estávamos, imersos no branco acinzentado até que, por uma fresta na cortina branca, vislumbrei ao meu lado, como se fosse ao alcance do braço, uma parede verde escura e sólida; a encosta de uma serra. Levamos um grande susto por estarmos tão próximos do solo, e por ele não estar abaixo de nós, e sim, ao lado, como uma parede que surgia de baixo e desaparecia no alto. A uma ordem do empresário, o piloto arremeteu para cima e logo o céu surgiu, azul e ensolarado acima de nós.
Visto que não poderíamos aterrisar em nenhum outro aeroporto da região, só nos restou voltar para Sta. Catarina, onde o tempo estava bom, e descer numa cidade pequena, para passar a noite, abastecer o avião e voltar no dia seguinte para Londrina.
A viagem pode ter sido frustrada em seu objetivo, que era chegar em Gramado, mas realmente foi uma experiência de vida profunda e valiosa. A possibilidade concreta de morrer espatifado na montanha fez-nos encarar medos, valores e sentimentos que poucas vezes tínhamos tido a chance ou a coragem de enfrentar. Conclusão: não tenho medo de morrer, mas sou muito grato a Deus por estar vivo!

Um comentário:

Lou H. Mello disse...

Enquanto isso, um grupo significativo de pastores orava por vocês, em Gramado, liderados por aquele que não colocava os pés no chão.