quarta-feira, abril 19, 2006

14- HONESTIDADE

Morando há pouco tempo no interior com a esposa e dois filhos pequenos, a mais de 200 km do restante da família, a adaptação a esta nova situação não estava fácil. Ainda mais porque havia comprado meu primeiro carro, e ele havia provado ser uma porcaria, um péssimo negócio. Quando consegui trocá-lo pelo meu “abacatomóvel” - meu fusca verde de 12 anos - senti-me um vencedor. O carro era confiável, econômico, e resistente. Só não era bonito e confortável, mas isso não me incomodava. Eu o utilizava diariamente para trabalhar.
Portanto, foi uma grande decepção quando meu carro, de repente, começou a fazer um ruído enorme no motor, ruído esse que aumentava com a aceleração. Pensei: “É pistão quebrado, cilindro rachado, alguma coisa grave assim!” E fui direto para a oficina.
Mal cheguei, o mecânico veio me atender e nem precisei falar nada, o som do motor dizia tudo. Disse: “Sei que isso vai te dar trabalho, e vai me dar despesa, mas não posso ficar sem o carro, portanto vou deixá-lo aqui, você vê qual é o problema, diz o preço, e faça o conserto”. O mecânico pediu-me para desligar o motor, foi até a traseira, abriu o capô, olhou, mexeu, fechou o capô e, mãos nas costas, pediu que eu ligasse o carro.
Nada!!! O motor pegou, mas nenhum ruído estranho saiu dele. Aturdido, perguntei o que ele havia feito. Ele mostrou as mãos, segurava uma enorme folha de jornal todo amassado. Aquilo havia entrado na ventoinha de refrigeração do carro, e as pás do ventilador raspavam o papel fazendo aquele barulho ensurdecedor. Tivesse o mecânico más intenções, e ele poderia ter ganho um bom dinheiro às minhas custas, sem fazer nada. Mas ainda existe esperança neste mundo!

Um comentário:

Lou H. Mello disse...

Muito melhor que fazer um trabalho honesto durante muitos dias e o cliente te dizer não gostei e não vou te pagar. Estou me lembrando de algumas situações que vivi. Realmente tem gente como seu mecânico ´por ai, são poucos, mas existem sim. Precisamos arrumar um jeito de multiplicá-los.