sexta-feira, abril 07, 2006

10- MACHU PICHU

“Loucura! Não há argumento neste mundo que prove qualquer sentido em passar pelo que estamos passando!” Mesmo assim, caminhávamos... Passos lentos e curtos, ritmados, quase como em câmara lenta... O ar, apesar de inspirado com força, não fornecia o oxigênio necessário... A ladeira, estreita e sinuosa, mesmo pouco inclinada, parecia uma barreira vertical. Aos poucos, muito pouco, os picos nevados aproximavam-se e descortinava-se uma vista espetacular. Caminhar de 2.800 m de altitude até 4.200 parecia algo inatingível. Caminhar, por horas a fio, parando por breves instantes para beber água e respirar profundamente, era o que fazíamos há dois dias... E ainda faltava tanto!
Por incrível que pareça, a pessoa responsável por todo este sofrimento não estava conosco. Um mal estar da filha poupou-a de nos acompanhar nesta caminhada de 4 dias pela “Trilha Inca”, entre Cuzco e Machu Pichu, Peru. Assim, não podíamos xingá-la, só nos restava ir adiante. Era julho de 2003, Elaine e eu, 2 casais e a filha de um destes fazíamos uma viagem mágica pelos Andes bolivianos e peruanos. A caminhada era o clímax.
À noite, no acampamento, dormíamos em barracas, dentro de sacos de dormir bem quentes, depois de uma boa refeição, e, mesmo sabendo que o dia seguinte nos esperava martírio igual, a sensação era muito boa. Além da deslumbrante paisagem, a caminhada, em si, trazia a emoção da aventura, do perigo, da descoberta, do conhecer-se melhor.
No dia em que atingimos o ápice de 4.200 m de altitude, depois de 5 horas de caminhada, sabíamos que havíamos ultrapassado o que pensávamos ser nosso próprio limite físico e mental. Bráulio, nosso companheiro de caminhada, estava extenuado. Faltando pouco mais de 30 m de trilha, a 2 m de atingir o cume, Rita, sua mulher, desaba e diz que não dá mais um passo. Depois de descansar um pouco e receber o incentivo de quem já estava no alto, eles retomam o passo. Ao alcançar o pico, nos abraçamos, e Bráulio chega à beira da longa ladeira e grita, berra com todo fôlego que sobrou um enorme palavrão. No local, além de nós, há vários pequenos grupos de caminhantes, de várias nacionalidades. Todos caem na risada, sabendo, não o significado, mas o que ele realmente queria dizer.

3 comentários:

Lou H. Mello disse...

Rubens, você tem histórias incríveis para contar relacionadas com suas aventuras, muito ricas, por sinal. Nunca esquecerei os dias que passei em Gramado orando por vocês. Lembra? Também fiquei com vontade de dizer um bom palavrão quando recebi a notícia de que estava tudo bem com vocês, apesar do sufoco que passaram nas alturas.

O Tempo Passa disse...

Lou, não se iluda, a viagem a Gramado será narrada, espere só.

Anônimo disse...

Ah! Ah! Ah! Que programa de índio,hein??? Carmen