quarta-feira, outubro 04, 2006

45- POLÍTICA 5

Na Geo-USP, no início da década de 70, o clima era de contida revolta pela morte do colega “Minhoca” (o Alexandre Vanuchi). O centro acadêmico (CA), vigiado de perto, fazia o que podia pra manter o ativismo político aceso, sem levantar repressões, tanto das autoridades acadêmicas quanto militares. O marxismo era o pensamento dominante na Geo, e uma forma de ação era a divulgação de literatura de esquerda, principalmente em espanhol - Marx, Lenin, Trotsky, Castro, Bakunin, Furtado, Freire, etc. Essa divulgação se dava em “feiras culturais”, em meio a muito samba e cachaça.

Decidido a não me omitir, pedi para também expor alguns livros que falavam de política, das injustiças sociais, do mundo contemporâneo a partir de uma perspectiva diferente, pois não era socialista marxista, nem adesista burguesa. Era “cristã combativa” (inventei o termo agora!) – Lewis, Padilla, Escobar, Schaeffer, Bonhoeffer, Ellul, Stott, Yoder, Guiness, Gutierrez.

A primeira reação da diretoria do centro acadêmico foi indeferir meu pedido, com a justificativa que só os livros do CA seriam expostos e vendidos, para angariar fundos para as atividades do mesmo. Solicitei uma reunião com a diretoria e disse que eu fazia parte da escola, que não era o único a partilhar das idéias dos livros, que queria colaborar expondo os livros , que de bom grado reverteria o valor das vendas em benefício do centro acadêmico e que meus livros almejavam o mesmo fim, a partir de outro ponto de vista. Não havia conflito.

A reunião ocorreu num classe-laboratório da escola, com longas mesas. Um dos nossos mais respeitados colegas, que, inclusive, passara meses preso por ocasião do episódio com o “Minhoca” estava na sala, apesar de não fazer parte da diretoria (o Rui é hoje membro do Greenpeace no Brasil). Deitado sobre uma das longas mesas, parecia estar simplesmente descansando após o almoço, antes das aulas da tarde. Depois de explicar minhas razões, o presidente do CA começou a dizer um “Mas... Antes que completasse a frase o Rui o interrompeu, deitado ainda, só com a cabeça erguida, e disse: “Você tá certo, Rubens, teus livros podem ser vendidos junto com os do CA. Você tem todo o direito de participar da forma que puder. E eu agradeço pela tua colaboração.”

Não me lembro do resultado da feira. Certamente meus livros não foram best sellers. Mas marquei posição; percebi e mostrei que era possível aliar-me no combate à ditadura sem ser marxista e sem abrir mão das minhas convicções. Inesquecível...

Um comentário:

Hernan disse...

Acho que você ainda vai votar no Lula.